A minha experiência na Casa do Gaiato de Benguela
No dia 21 de Novembro de 2023, de forma consciente, tive o privilégio de pisar, pela primeira vez, esta grande Obra «CASA DO GAIATO DE BENGUELA», pois, o vento da Missão, ao soprar, conduziu-me até à Casa do Gaiato, para poder fazer a vontade de Deus, ajudando, positivamente, o Senhor Padre Arnaldo «Pe. Quim», um Excelente Companheiro de viagem, na Sua forma simples e profunda de Ser; desde já, aproveito expressar os meus sentimentos de gratidão a Ele.
Graças a Deus, ao ouvir, durante a celebração Eucarística, que eu faria o meu estágio Diaconal na Casa do Gaiato não fiquei preocupado, pois, percebi, antes das Ordenações, que Deus "já me tinha conhecido antes de estar no ventre da minha Querida Mãe; desta feita, Deus conhecendo-me antes de mim, consagrou-me e constitui-me Profeta, Rei e Sacerdote", a fim de estar com o Seu Povo; neste caso, o povo a mim destinado é o Gaiato «Rapazes», sem excluir toda a realidade em si do Gaiato. Por esta razão, apesar dos desafios que a Obra em si apresenta, eu, tanto interna como externamente, não quis responder como o nosso amigo Jeremias; não olhei para as minhas inúmeras debilidades, abracei com muita alegria a notícia, e vim para o Gaiato.
Não criei nenhum esquema relacional, apesar de me terem dito muitas coisas em torno dos rapazes «Gaiatos». Isto ajudou-me bastante na socialização com os Meus Irmãos e Amigos Gaiatos; aliás, eu sou um daqueles que não se prende muitos nos dizeres, sobretudo, quando o que se diz não carece de experiência. Por isso, vim para a Obra da Rua sorrindo interna e externamente, e o sorriso foi-se aumentando, sobretudo, quando cruzei com muitos rapazes sorrindo, apesar das histórias pessoais que cada um reservava de Si mesmo. Encontrei família; por isso, cada dia peço a Deus que me dê a graça de ser uma presença útil para que este elemento familiar, típico da Obra da Rua, se perpetue no espaço e no tempo, e cada um se sinta amado e consiga olhar para Cristo, "única urgência que chama e fármaco da imortalidade", chamando-nos a viver com dignidade enquanto se caminha para a Pátria Celeste.
Estar com os Gaiatos é uma graça; pois, fez-me perceber melhor a importância de se fazer um com os outros, sem perder a identidade própria, tal como já o fez há anos, Jesus Cristo, que assumiu a condição humana excepto o pecado, habitou entre nós para melhor nos chamar à razão; aliás, as tristezas e as alegrias do Povo a Igreja sempre fê-las Suas. E é isto, estar no Gaiato é compreender cada Rapaz, ouvi-lo e escutá-lo na sua forma de ver a vida que, às vezes, nada tem de construtivo. Nesta circunstância e não só, muitas vezes, tinha que dobrar os joelhos diante de Jesus, visto que é Ele que tem os melhores fármacos para situações ligadas a vida.
Em suma, depois dos 349 dias na Obra da Rua em Benguela, apenas devo "dar graças a Deus, em tudo" (cfr. 1Tes 5,18). Porque a Obra da Rua, para além de ser um meio natural da Criança, onde se desenha da melhor forma o futuro de cada Rapaz, não apenas em termos de Personalidade, como de Cidadania; também "é uma aula/lição bem dada, não de um só professor, mas de muitos; que são OS RAPAZES" (Cfr. Pe. José Alfredo, Jornal de 28 de Janeiro de 2023), sem esquecer a outra gente de fora que sempre bate às nossas portas para merecer um apoio. Devo confessar que, até agora, a minha experiência na Obra da Rua está sendo timbrada positivamente, porque o ambiente em si tira-me da zona do conforto, coloca-me em movimento a cada dia que nasce e chama-me a dar uma resposta construtiva, de sobremaneira, naquelas zonas que a mim tocam directamente, neste caso, refiro-me à pastoral orgânica, como presságio de uma salutar pastoral de conjunto, todos para um e um para todos. E nesta singularidade que caminha para o todo, a área da disciplina tem sido o campo da minha atenção nos seus variados compartimentos, tudo em vista a uma equilibrada formação humana, espiritual, afectiva e intelectual; sem excluir as outras dimensões que a Casa comporta. Daí que, a oração diária do Santo Terço, sobretudo, a Santa Eucaristia aos Domingos e nos dias Festivos, a Catequese aos Sábados, o Estudo, o Convívio, o Trabalho e o Desporto, têm sido, justamente, favoráveis para o crescimento qualitativo de cada Rapaz.
O Justo Cordeiro encontrou dificuldade na realização da santa vontade de Seu Pai, aliás, foi tentado no deserto, foi acusado e rejeitado, mesmo assim não desistiu do Seu ideal; certamente, se os espinhos vierem se fazer presente neste meu longo caminhar, apenas pedirei a Deus que me sustente sem cessar, e, assim, consiga fazer dos obstáculos caminho e caminho em nova oportunidade de ver melhor a missão. Aliás, é normal que entre muitas individualidades haja, uma vez e outra, tristezas; no entanto, o mais importante é não perdermos esta familiaridade. E falar de familiaridade, é um desafio a cuidar com muita veemência, pois, é o estilo próprio da Casa. E o outro desafio, apesar de outros, é a capacidade de calibrar a qualidade que já há em cada Rapaz, corrigir o negativo e reorientá-lo para o melhor e, assim, ser trampolim para o Rapaz.
A caminhada é longa, e os desafios são enormes, assim como qualificar cada vez mais a nossa agricultura, a nossa Vacaria, sem esquecer os outros serviços à nossa disposição; o mais importante é não cruzarmos os braços; temos de seguir em frente, pedindo sempre a mão protectora de Deus na intercessão ininterrupta do Venerável Padre Américo. Porque se cruzarmos os braços ante os desafios, pequenos e grandes, que a Casa nos apresenta, e assim não tomarmos opções pontuais, um dia poderão ser flechas no nosso peito e no peito dos Rapazes.
Que Deus, neste longo caminhar, ajude darmo-nos a todos os homens, e que descubramos no Pobre abandonado o Seu rosto. Ámen!
Pe. Gabriel Domingos António