Beire

Um voluntário xix pê tê ó

BENÇÃOS "CAÍDAS" DO CÉU... Estávamos à mesa, de volta de uma sopinha preparada por ela. Como que em família, falávamos de tudo e de nada. A certa altura, ela adianta que, se precisarem de mim, este ano, quando as cozinheiras forem de férias, eu poderei fazer a cozinha por elas. Terei muito gosto em disponibilizar-me para isso - seja cá em baixo, para os Rapazes, seja lá em cima, para o Calvário. Agarrei logo a oportunidade e prometi ver o calendário das férias para informá-la. Só depois, no acerto, percebi que aquilo era uma oferta preciosa - dou as minhas férias. Ela trabalha e está sujeita ao calendário institucional. Mas, no que as férias dela coincidirem com as férias das cozinheiras... Que grandeza de alma!

Passam os dias e, volta e meia, dou comigo a ruminar aquela cena da mesa. Recordo conversas havidas com outros/as voluntários/as a propósito de um, já em processo, urgente e necessário RE+pensar os modelos de voluntariado aqui - Obra da Rua, Beire. Entre muitas coisas, salta-me o título de um livro de D. António Couto - Como uma dádiva. Foi um livro que me marcou. Pela sabedoria de ver a história de Deus a doar-se-nos, antes e ainda hoje, aí onde muitos vêem apenas uma escritura, ainda que sagrada... Naquele jeito de pensar e de escrever a que o antes Professor da Católica e, hoje, Bispo de Lamego, nos habituou.

Foi assim que a dádiva daquela senhora, mãe de família já crescida, me soube a bênção especial, caída do céu. E me pôs a PENSAR. Numa matéria que, quanto mais a vou conhecendo por dentro mais me seduz. Porque acho que o voluntariado precisa, sobremaneira, de ser pensado e visto por dentro... É que Ele, o eterno sedutor do povo, foi também um Voluntário que assumiu e fez Seu o Projecto Humanizador do Pai... De que o verdadeiro voluntariado, hoje, pode e precisa ser expressão dessa uma chamada que Jesus ouviu como vinda do Pai. Vinda de dentro, para se revelar por fora. Em obras humanas de sabor divino, na feliz expressão de Pai Américo.

UM SABER QUE JÁ, MAS NÃO SABIA... Neste meu trabalho interior de ouvir e seleccionar o pensamento / sentimento que vem e o pensamento / sentimento que vai, penso o futuro do nosso querido e já indispensável voluntariado. Salta-me, então, a expressão xis pê tê ó que intitula esta nota de Beire. Para significar a necessidade de um voluntariado de qualidade, adaptado aos novos tempos e circunstâncias que espreitam o Calvário. Sem eu dar muito por isso, filhos e netos, mai-lo mundo à minha volta, já me habituaram a usar esta sigla para substituir a clássica expressão corrente de alta qualidade... Mas porque gosto de saber do que falo, lá fui eu à net ver o x.p.t.o. que tanto cai da boca da gente moça mais daqueles que... Espanto meu. XPTO ou X.P.T.O. (pron. "xis pê tê ó"), simpl. de Xρ.τo, é uma abreviatura da palavra grega "Χριστός" ("Christós" = Cristo). Que no latim deu Christus, e significa Ungido, Eleito... E que, na tradição mais antiga do cristianismo, logo aparece atribuída a Jesus de Nazaré - o Cristo, o Ungido, o Eleito do Pai para Se revelar aos homens per Ele amados. Revelar-Se. No aliviar as dores dos que sofrem; no saciar aqueles que morrem de fome; no aproximar/fraternizar aqueles que, como ovelhas sem pastor, andam perdidos no vazio e na solidão do existir...

Na década de 50 do séc pp, num contexto monástico, as cartas pessoais terminavam invariavelmente com um seu em X.to, a que se seguia o nome próprio. Longe de mim pensar, nessa altura, que viria a usar esta sigla sacro-monacal para dar um certo tom jocoso ao linguajar corrente - Ena pá, compraste logo um computador todo xis pê tê ó... E, hoje - aqui e agora - dou comigo a pensar convosco um voluntariado xis pê tê ó. A querer dizer de qualidade à altura do momento.

APRENDER A COM+VERSAR... Esta experiência que a vida nos está a pedir alerta-me para a urgência de um RE+aprender a COM+versar. Quase jocosamente, gosto de repetir-me-nos que a comunicação é muito difícil... Porque somos mestres em descon+versar, contra+versar, sobre+versar e/ou sob+versar. Mas somos quase analfabetos na difícil e sublime Arte de Conversar. Esquecidos de que a COM+versa, como o amor, não é olhar um para o outro, para dizer ámen a tudo... A conversa, como o amor, é procurar juntos uma mesma direcção que nos una e vivifique. Assim, compreendo a tentação do fugir ao reunir o pessoal para conversarmos... Porque o tempo e as energias que se perdem, por falta de preparação para definir bem uma mesma direcção, já não se compadecem com o corre-corre de quem tem de gerir uma Obra destas. Entretanto, o COM+versar é imprescindível para as tomadas de decisão que se repercutem pesadamente no futuro da história de Deus com os homens. Que o mesmo é dizer no futuro da história dos homens com Deus... É que uma nova direcção para o Calvário e C. do G. de Beire, com perspectivas diferentes, longe de significar uma "ameaça", pode ser uma grande oportunidade de experimentar e de expressar novas formas de ESTAR COM os doentes e os rapazes. Também elas capazes de dar sempre MAIS VIDA E VIDA EM ABUNDÂNCIA...

Um Admirador