BEIRE
Vivências da nossa Páscoa...
1 - Começamos com a Festa do Perdão. A sexta-feira antes de Ramosfoi um dia muito especial cá em Casa. Às 10:30h, todos estávamos na Capela. Rapazes do campo (subiram mais cedo) e todos os doentes. inclusive os acamados(1). Com a presença de P.e Crespo, vizinho e grande amigo da Casa, para ajudar na Festa do Perdão. Um jeito de dizer aquilo que, in illo tempore, era a desobriga, a confissão da Páscoa, depois celebração penitencial. (...). Acho que o próprio Evangelho aponta bem para aqui - uma Festa do Encontro ou Festa do Perdão. Diz-no-lo a parábola do encontro d'O Filho Pródigo (pródigo em desamor...) com o seu próprio Pai (pródigo em amor...). Segundo a Análise Crítica Literária, esta parábola é do que de mais belo há em toda a literatura mundial sobre esta matéria. Digna de uma Antologia Universal sobre a Bondade que habita(2) nos nossos corações."!...
Estive de princípio a fim, não já só como admirador, mas como quem se deixa tocar também pelo evento e pelo sacramento(3). P.e Alfredo fez uma breve explicação do que ali estava a decorrer: a) um "encontro da comunidade" em "encontro com Deus", como preparação para a Páscoa do Senhor; b) o "encontro de cada um com Deus, sacramentalmente visível no sacerdote que acolhe e, logo de seguida, c) a Celebração Eucarística. Uma Acção de Graças, porque "os Teus carinhos para connosco, Senhor, são mais numerosos do que os grãos de areia das praias do mar" (Sl 139, 17-18).
Eram três sacerdotes, de alva e estola - P.e Telmo, P.e Crespo e P.e Alfredo. Cada um no seu cantinho - em busca de cumprir a privacidade do acto. Teresa e a Maria iam a cada um/a perguntar se e onde queriam ir. Ajudavam a deslocar a cadeirinha de rodas - se era o caso. Vi que todos quiseram. E eu também quis.
Entrementes, nos meus ruídos internos, dava comigo a "questionar" sobre o direito / dever de, sendo estes os filhos que Deus nos manda, os privarmos e/ou levarmos assim a estes regalos que a nossa Fé e a Liturgia Católica têm para os homens por Deus amados (Lc 2, 1-14). O delicado tema da "liberdade religiosa" nestas instituições da Igreja. Fui até 2013 - após um telefonema de P.e Baptista. Passei a vir quase todas as semanas. Almoçávamos os dois com os doentes e, após o almoço, ajudava a dar de comer aos acamados. Depois, íamos os dois, mata fora, a descobrir e a conversar.
Às vezes, ficava para jantar com os rapazes e rezava o terço com eles. Impressionado pela disciplina, pelo silêncio oracional e por aquela algaraviada toda que a reza deles sempre é, deixei escapar: - Para um leigo estranho, esta reza do terço é uma incógnita perigosa - eles não percebem nada do que dizem nem dizem nada direito... Diante de Deus, terá o seu valor. Mas... Resposta de P.e Baptista: - Serena-os muito. É uma rotina que eles precisam e que os acalma. Depois de um dia de trabalho, isto faz-lhes bem, pacifica-os...
2 - As nossas "festas" e seus ECOS... Os meus diálogos internos, para mim, são "amigos" de que preciso cuidar bem. Porque senão... Viram meus inimigos perigosos... Depois da Eucaristia que se seguiu à Festa do Perdão, vi que P.e Crespo, convidado para almoçar connosco, ficou por aí em alegre convívio com os rapazes e doentes. Gosto de ver esta Casa assim aberta aos nossos Domésticos da Fé (Gl 6,10). É uma "partilha de bens" - não só "bens materiais" (P.e Crespo reparte connosco os excedentes do que ali chega), mas, sobretudo, partilha de "bens espirituais". Estas coisas que, no dizer do povo, fazem muito bem à alma. Penso que foi isto mesmo assim nesta festa do ir ao Senhor Padre...
Pude ver e ouvir os ECOS das celebrações. Cada um a seu modo. Mesmo aqueles que não conseguem falar nada de jeito... Dava gosto ver e, mais ainda, sentir a festa que cada um vivia: - Eu fui ao P.e Telmo, eu fui ao P.e Crespo, eu fui ao P.e Alfredo... As palavras quase não passavam disso - Eu fui... Eu comunguei... Foi bonito... Mas aquelas caras, aquele sobreporem-se uns aos outros a querer contar primeiro, aqueles olhares, aquelas melodias que modulavam cada voz, (...), não mais se apagarão de mim. Que venham os teólogos dizer que eles não entendem, que isto é profanar um sacramento, que se corre o risco de lançar pérolas a porcos, que e que e que. Deixá-los. Eu, que já gostei de teorizar e dizer bacoradas dessas, gosto agora é de partilhar convosco este meu delírio interior: - Se a fraqueza da vossa fé ainda vo-lo permite e aceita que o inefável sempre grita muito alto, passai por cá. E ficai o tempo necessário para auscultar o quanto esta iniciativa de P.e Alfredo caiu bem entre estes nossos filhos que Deus nos mandou...
____________________________________________
1 - A palavra acamados, já quase não faz sentido. As cadeiras de rodas permitem-nos mobilizar toda esta gente para estar-comnosco. Onde convenha - a eles e a nós. Enrodados, sim, mas comnosco. Com a comunidade. A participar.
2 - Os estudiosos destas coisas gostam de distinguir o habita d'o visita... Realmente, parece haver ainda corações de pedra, insensíveis ao sofrer de outrem. Mas parece não haver ninguém que, uma vez ou outra, não se sinta visitado por essa bondade de que precisa - quando a desgraça lhes bate à porta...
3 - Evento é o sinal visível - que os olhos podem ver; sacramento é o grande Invisível que só os "olhos do coração" sabem vislumbrar...
Um admirador