BEIRE - Flash's
Porque «hoje é Dia da Mãe»
1 - Abrimos as portas à Comunidade... Sabemo-lo todos: ser-se "humano" é ser-se "significador". Isto é, trazemos bem dentro de nós o poder de "dar significado" às coisas. Que sempre acontecem. Dentro e/ou fora de nós. Porque também somos "seres de trans(a)cendência". Nascidos para transitar - fazer caminho, ite(r)nerar, sin+odalizar, sair para além do próprio umbigo... A descobrir rumos que nos levem até a'o melhor de nós. E dos outros. Que também são parte integrante de nós...
Vem isto a propósito d'O Dia da Mãe, em nossa Eucaristia. Foi anunciada a abertura à comunidade que nos rodeia. O nosso estar é de porta aberta. A pandemonia obrigou-nos a fecharmos as portas. Todos compreenderam. Mas agora pedem para tornarmos a abrir...
Muitos ainda se lembram bem de que antes não havia o Dia da Mãe. Ninguém lhe dera ainda um significado que... Depois, por iniciativa da Igreja, foi o 8 de Dezembro - N.a S.a da Conceição. Apareceu o perigo de desvio da atenção devida a N.a Senhora... Passou para o 3.o domingo de Maio - o mês de Maria, a nossa Mãe do Céu. Passado tempo, fixou-se no 1º domingo de Maio. Que este ano coincidiu com Primeiro de Maio - Dia do Trabalhador... (Qualquer dia pedem para mudar outra vez o Dia da Mãe, porque...).
Certo é que esta palavra mãe mexe com a gente. E com a sociedade - seja o consumismo a aproveitar-se disso, seja o partidarismo a querer o seu quinhão, seja o melhor de nós a vir ao de cima. Avisando que, afinal, será de toda a conveniência aprendermos quanto antes a cuidar bem d'a mulher eterna adormecida no mais íntimo de cada ser humano. ISSO que, na linguagem de toda a Criação, "confia à mulher o sentimento límpido da vida efémera, o sentimento fundamental da vida eterna". Porque "é à mulher que, na ausência de Deus, compete a custódia da vida". Não já só como mãe biológica mas, sobretudo, como companheira do homem para a com+strução de um mundo novo.
Segundo a narrativa do Génesis, é nessa bipolaridade - ela com o homem (e não com os filhos) - que se cumpre a imagem e semelhança de Deus.
2 - ... Hoje é dia da mãe, tu sabes?!... Eram duas mulheres. Nenhuma delas é mãe biológica. Uma é a nossa doente x - com acentuada deficiência mental. A outra, uma voluntária que, desde há uns tempos, está connosco, a ver e ser vista - na mira de, juntos, podermos discernir se haverá por aí um "Deus quer" que ela fique para se doar por inteiro a esta Causa de Deus, nesta Causa do Homem. Tem passado muitas noites em vigília aos doentes. Tem ajudado em tudo o que já é capaz e a Casa precisa. Tem sabido tornar-se família. A cena foi assim: Era a hora do levantar, primeiros cuidados da manhã e ajudar no banho - se preciso for. Estava a limpar a doente. De repente, um jato de ternura: - Hoje é Dia da Mãe, tu sabes?!... - Sei, então!... É um dia muito importante.... - Atão, dá um abraço a mim; tu és minha mãe!...
Curioso ainda é que esta mesma doente - que agora pede para ser filha - anda sempre feita mãe a cuidar da Luisinha - a nossa princesa, no dizer doce de P.e Telmo. - É a menina, ké ke tu ké?!... Sempre por perto, limpa-lhe a baba, ajeita-lhe a roupa, não deixa que ninguém responda mais áspero se a menina se porta mal... Enternece o carinho com que a trata e o olhar de mãe que sobre ela poisa... Se a deixam, gosta de lhe dar de comer à boca, enfim, uma mãe legítima!...
Outro caso é o Riki. Com uma deficiência mental notória, foi criado pela Adelaide - que foi alicerce seguro na história das mães do Calvário. Quando as forças lhe faltaram, mas ainda com bastante autonomia, foi para Paço de Sousa. Ensinou o Riki a fazer-se uma pessoa com deficiência, sim, mas capaz de cuidar de si. No edifício do velho hospital, Adelaide, Riki e D. Esmeralda, cada um com seu cantinho, tinham lá o seu quartel general. Uma senhora de fora dava o apoio necessário nas urgências de maior. D. Esmeralda foi mãe que deixou rasto na história das mães da Obra, em Paço de Sousa.
O tempo passou. As limitações foram-se acentuando e, agora, a Adelaide é uma das nossas doentinhas. E o Riki veio com ela. Porque é dos nossos.
Sempre sorridente, o Riki gosta de andar por perto da Adelaide. A dar-lhe de comer à boca, a passeá-la na sua cadeirinha de rodas, naquilo que é capaz. Enfim, um verdadeiro pai/mãe daquela que o criou.
3 - Cumpre-nos encarnar a ternura de Deus... Repasso e somo mais cenas de ternura que, para quem sabe ver, aqui no Calvário, são de todos os dias. Muitas já vo-las relatei. Nalgumas, até fiz parte delas.
Dou comigo a pensar noutros significados para o Dia da Mãe - uma oportunidade / desafio a alargarmos os nossos horizontes de ser. Porque todos sabemos bem de homens que, tendo perdido a esposa, assumiram e deram bem conta do recado de serem pai/mãe; e/ou de grandes mulheres que, tendo perdido o marido, souberam ser, com muita sabedoria, mãe/pai. Deus é grande! gostamos de repetir. E manifesta-se na grandeza do ser humano - um abba em processo moroso de urgente maturação...
Um admirador