BEIRE - Flash's
Aquela «referência espiritual»...
1 - O vento sopra quando e onde quer... Via e-mail, chegou-me o Boletim da Associação. Ainda que pouco dado a deixar-me condicionar pelas redes sociais, de vez em quando, paro, escuto e olho... Pode ser que o "comboio" traga algo que valha. Vi que chegou, parei, dei uma vista de olhos e achei que podia/devia fazer um eco incentivador para aqueles que, periodicamente, nos dizem que ainda há gaiatos de coração agradecido - a dizer ao mundo o seu orgulho pelos "caminhos que andaram"...
«ISTO» de haver "antigos gaiatos" que, guiados por alguma "referência espiritual", criam, renovam e/ou simplesmente mantêm uma "associação" para cultivar e alimentar essas "referências" em que Pai Américo é a fonte que ainda jorra, a fecundar o que a Obra da Rua deixou neles, «isto» toca-me fundo. Sinto-me em família com cada um - porque também eu trago no peito "referências" dessas. Muito do que a Obra da Rua moldou em mim ainda PerDura... Como uma bênção - para mim e para quantos são da "minha circunstância". E, se não foi ainda melhor, é porque eu não soube ou ainda não estava preparado para me abrir a mais. Mistérios do ser-se humano. Isto é, este viver-me aquém a querer ser de além...
O meu eco despertou um outro eco - vindo do lado de lá. E é dele que, hoje, quero partilhar convosco. Foi uma surpresa. Inesperada. Minha vida é assim - quando menos espero, vinda de onde menos se espera, surge a revelação. Ora vejam: «Eu é que estou sempre a aprender com o Calvário e quem nele está inserido... está vivendo o dia a dia..!».
Fixo-me neste «estou sempre a aprender com o Calvário». Salta-me aquela norma do Telefone da Esperança - «uma voluntário do TE precisa ser uma pessoa que se sente em ProCesso de tornar-se pessoa". É assim que vejo o Calvário. Como voluntário e/ou simples colaborador assalariado. Porque, se nos falta esta experiência cultivada do «sentir-se em processo», depressa caímos numa de cão sábio a vender certezas do que não se sabe bem...
Quase sem nos conhecermos para lá do society de ocasião, aquele e-mail continua: «Sabe, dr Abel, com 10 anos, em Paço de Sousa, sofri de epilepsia, tinha ataques... e estive quase a ir pra Beire, p'ro Calvário, pra junto dos "diminuídos" (diz o mundo)... mas Deus NOSSO SENHOR concedeu-me a regularidade da minha saúde e embora com dificuldades, passei a fazer a minha vida normal, como ainda hoje faço. Considero que nesse momento tive tanto azar ... de não ter ido p'ro Calvário... p'ro PARAÍSO da OBRA DA RUA. Teria sido tão feliz...!»
2 - M/ "referência espiritual" salvou-me... Creio que desde que o mundo é mundo, a «fé» aparece e sempre se manifesta entre nós, humanos dos quatro costados. É um fenómeno a que muitos têm relutância em chamar-lhe humano porque o "divinizam" a tal ponto que fazem dele um "fenómeno extraterrestre"... Só para uns tantos, ditos "crentes"(1) ... Porque tive a sorte de nascer num ambiente humano animado pela fé (a fé de carvoeiro sim, mas fé!) sempre me seduziu o PerFurar(2) aquela realidade que poderia estar por detrás dessa palavra que tantas vezes ouvia - para traduzir coisas que aconteciam ali diante dos meus olhos... Depois, fui des+cobrindo esse Filho do Carpinteiro que, em Nazaré, falava a «homens de pouca fé" e usava «parábolas» para os incentivar a cultiva-la. E selava a sua palavra com o testemunho da sua vida - centrada na fé no «Pai do Céu, que faz o sol brilhar para bons e maus; manda a chuva para justos e injustos". Enfim, um crente de raiz - em nada crendeiro...
A carta prossegue assim: «Esta noite (duas da madrugada), à vinda do trabalho, apanhei óleo na estrada e despistei-me... recordo que ao fazer os piões gritei por Pai Américo e a carrinha imobilizou-se na valeta. Mas estava vivo, dr. Abel! A minha "referência espiritual" salvou-me uma vez mais...!».
3 - Sempre a ajudar este lobo da tundra... Ao ler este e-mail, deixei-me tocar. Na mira de melhor «compreender» o inefável destas partilhas. Porque se, para o autor do e-mail, sou algo mais do que um ilustre desconhecido, é graças ao Calvário. Penso que me vai lendo n'O Gaiato e sabe da minha paixão por estes mistérios do amor, de que o Calvário, aos olhos dele, «é o PARAÍSO da OBRA DA RUA». Deixei-me tocar. No silêncio. Os olhos, teimosos, começaram a... Deus louvado!
Tento fugir dos meus pecados de omissão - sempre que eles atrasem o desabrochar de uma obra que nasceu para ser humana, mas de sabor divino... E que faz brotar d'isto: «A minha referência Espiritual está-me sempre a surpreender e a ajudar este lobo da tundra, que sou eu»...
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1 - No meu jeito de ler estas coisas, gosto de distinguir um "crente" de um "crendeiro"... O crente acredita n'aquilo que o vai transformando - de mau em bom e de bom em melhor, num sem fim à vista... O crendeiro é aquele que acredita naquilo que, dispensando-o de buscar sempre mais e mais vida, se instala na vida que tem e repete, mecanicamente, que isso é "a vontade de Deus"...
2 - Já aqui vos falei deste meu gosto de "perfurar a realidade" - essa "realidade" que é a nossa. Na nossa imanência (transitória) e na nossa transcendência (que ultrapassa o tempo).
Um admirador