BEIRE - Flash's
O presente de "estar presente"...
1. A segurança rodoviária. Penso que foi uma boa ideia - coisas de "profetas do nosso tempo", gente que, ocupando lugares cimeiros de responsabilidade, puxa para o Bem Comum da Humanidade... Nos períodos de Natal e Páscoa, as nossas autoestradas costumam exibir, nos placards próprios, um bonito alerta para quem conduz: «O melhor presente é estar presente. Zero mortos».
No silêncio do automático de uma condução mecanizada pelos anos, deixo-me embeber pela mensagem. Verdade! Quando há "laços que nos unem" ('de sangue', 'de coração' e/ou "a somar"...), o melhor presente é sempre a nossa presença. E, basta estar atento a isso que mexe dentro de nós. Isso que, conforme os quadros mentais de cada um, vai recebendo diferentes nomes - amor de família, saudades que gritam a pedir que as matem, tradições a manter, valores a alimentar, enfim... Ninguém precisa de mais explicações. Cada um lá vai fazendo a sua tradução. Só fica de fora quem, por razões tristes, nunca aprendeu a amar - por não ter recebido o amor q.b. de que todos precisamos para viver minimamente equilibrados... São as feridas de não existência que é bom conhecermos. Para saber lidar com elas...
O mundo das relações individuais, familiares, sociais e até internacionais muito ganharia se lhe dessemos um chisquinho mais de atenção... Sempre que passo diante de um placard desses e me deixo tocar pela mensagem que, assim, se despeja sobre mim, o nosso Calvário torna-se-me presente - a pedir-me o presente da minha presença.
2. Experiências que se somam... Mesmo a conduzir, no ecran da minha mente, vou deixando passar um a um todos nossos... Com doces memórias de experiência afins. Sempre em sua busca de proximidade e de presença. É um fenómeno humano que aqui, quase que automaticamente, se pode observar e vivenciar. Fora e dentro de nós. Basta estar atento e gostar de aprender a ler o comportamento observável de cada um - a começar pelo nosso. E dou-me conta de que, à medida que me deixo tocar por isso, se me vão alargando os meus reduzidos horizontes de ser. Deste meu ser, imerso e emergindo do grande SER. A que Pai Américo tanto gostava de se referir como «essa Causa Incausada», que "tudo rege com sabedoria". Coisas que em PRH(1) se falam como «aprender a deixar-se guiar pela sabedoria do ser» - no nosso Agir Essencial...
Já uma vez vos falei no Diamantino. Quando "desesperado", em sua solidão de acamado numa cadeira de rodas. Idem quando, aparentemente calmo, logo se altera com a chegada de um desconhecido. Ou um conhecido com longas ausências. Se mantivermos uma presença doce e persistente, com olhar sereno e voz meiga, em busca de compreensão e esperança, de novo naquele Diamantino enraivecido, vai acordando toda aquela afabilidade que, também, lhe é peculiar.
Recordo coisas que já vos descrevi. Aquela e outras do «você é boa pessoa», que lhe saiu quando era eu a dar-lhe de comer com mais frequência. São experiências que me falam dessa força da presença como o melhor presente que se lhe pode dar. Dito do Diamantino, dito do Valdemar, do sr. Neca e sr. Costa. Dito ainda do Chico, do Faneca, SeManel Mouco, Toninho, ... Esses que nos deixaram doces recordações, a quando do roubo resultante da incompetência inconsciente(2) da desumanidade de alguns encarregados da humanização deste tipo de instituições...
3. Uma Ação Social vs Ação Teologal... O espaço já não dá para mais, mas quero voltar a pegar nisto: A Dra. Isabel, uma voluntária já da mobília da Casa, todas as semanas, vem estar com os rapazes e doentes. Para descontrair e educar. Sobremaneira, um tornar-se presente com a sua doce presença. E, com "isso", ajudar a trazer cá para fora o bonito que cada um traz dentro. Desde o canto, a modelagem e a pintura, ela de tudo se serve para abrir horizontes no ser de cada um.
A D. Laura, sua aluna já sobre os noventa anos, toda voltada para "as coisas de Deus", tem estado muito doentinha. Já não pode participar nas atividades da Dra. Isabel. Mas aí, a "mestra" pegou no livro de Pe. Telmo - Um Retiro na Montanha - e, aos pouquinhos, vai lendo para a D. Laura... Ela delira. Pede sempre «só mais um bocadinho».
Ontem, vésperas da Festa de Sta Maria Mãe de Deus, no fim da missa, Pe. Alfredo e Adão, ainda devidamente paramentados, foram levar-lhe a Santa Unção. Hoje fui eu levar-lhe a Eucaristia, dentro da Celebração Dominical Comunitária. Brinquei com ela - Deus é seu amigo, veio visitá-la ontem e hoje vem outra vez! Sorriu. Como quem esquece que está muito doentinha. Para ela, "ISTO" é a visita do médico dos médicos... Crente de que Ele tudo fará para que D. Laura possa experimentar a paz do "Príncipe da Paz"...
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1 - Escola / Movimento de investigação e formação sobre a Personalidade e Relações Humanas.
2 - O problema da Humanização dá-me que pensar. Como tornar esse tema uma fonte de mais vida em vez de um instrumento que pode roubar à vida a Grande Qualidade que toda a vida humana precisa para ser uma vida d'IGNa de um Ser Humano. Urge fazer algo que ajude a ir passando de uma "incompetência inconsciente a uma "competência inconsciente" - porque surge de dentro de nós com a naturalidade com que a água brota da fonte...
Um admirador