BEIRE - Flash's
A Acção Social é Acção Teologal...
1 As intuições de Pai Américo... Detenho-me a perfurar essa realidade que, naquele fim da primeira metade do século XX e princípios da segunda metade, aquele homem foi em Portugal. Um homem que era também um padre admirado de o ser. A tal ponto que até escrevia o seu nome acrescido de um ponto de admiração - P.e Américo!... Que, pela sua Acção Social a favor das crianças abandonadas, depressa passou de padre a Pai - Pai Américo. Com a admiração e ajuda de Portugal inteiro. Não propriamente o Portugal dos poderosos, mas o Portugal dos simples. Desses que, de coração puro, ainda são capazes de acreditar que «pela Graça de Deus, muito encostadinho a Ela, qualquer mortal pode erguer um irmão da lama sem se sujar».
A novidade da sua incomparável Acção Social em prol da sociedade portuguesa daquele tempo acordou muita gente boa, mas de coração adormecido pelas correrias da vida. Acordou. Penso que o conseguiu movido por uma "Teologia Outra" que não pela teologia da treta, de que não percebia nada. N A D A!!! - repetia ele com ênfase! Penso que terá intuído muito da Verdadeira Teologia que animava os ensinamentos e a vida do Filho do Carpinteiro - da Nazaré daquele tempo. Esse mesmo que, vivendo em Nazaré, se apercebeu que era preciso mudar-Se para Cafarnaum. Porque estavam lá as sinagogas do poder político e religioso, que não podiam mais continuar fechadas na contemplação do umbigo das suas leis farisaicas a pedir aos outros o que nem elas cumpriam...
Penso que a salvação que um e outro quiseram trazer ao mundo (dos homens por eles amados) tem muito mais a ver com Acção Social do que com especulações teológicas. Isso, hoje, é-me quase uma evidência. Por isso tanto me dói e tanto me encanta este virar de página do nosso Calvário. Tudo foi/está posto em causa. Há que deixar-se incendiar e ir incendiando - de Nazaré para Cafarnaum e de Miranda do Corvo para o Porto. - Ai Porto, Porto, quão tarde te conheci!...
Está na hora de voltar às origens. Aproxima-se a hora dos testes para um Calvário renovado. Que respeite os poderes/deveres dos "homens de César", mas que deixe também que os "homens de Deus" possam «pôr Deus no Seu lugar». Um lugar que, pondo-Lhe os nomes que pusermos, tem de estar no mesmo lugar em que pomos "os homens por Ele amados". Quem tiver olhos para ver, que veja o que se passa aqui e por esse mundo fora. Quem tiver cabecinha para entender que entenda. Não vá acontecer como no tempo do salmista que «o homem insensato não entende estas coisas // e o ignorante não as compreende». Ainda é tempo de ter e ser esperança. Há que abrir os olhos - para ver a luz que Pai Américo acendeu para Portugal inteiro. Um Portugal de crentes e não crentes. Acendeu uma luz que já se estendeu até à Africa e lá está a brilhar.
2 Não há Acção Social sem ... No último nº d'O Gaiato, toquei ao de leve um tema que me seduz - a estreita ligação(diádica)(1), (quase siamesa!) entre as "duas naturezas" que, no homem, como em Jesus (o Homem/Deus), não se misturam nem se excluem - porque é a humanização que faz presente a divinização e vice-versa.
Falamos de dois níveis distintos - mas complementares, na construção da nossa plenitude. É o que o Evangelho nos quer dizer ao relatar-nos que «Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens!». Se se quer ser verdadeiramente humano, tem de ser verdadeiramente social e também verdadeiramente teológico. Basta lembrar que, quando se estudam as Relações Humanas, seja qual for o quadrante político ou religioso, sempre aparece a importância da qualidade do clima relacional. Se um clima de qualidade e/ou de falta de qualidade; clima saudável e/ou clima tóxico; clima vitalizante e/ou clima paralisante, mortificante... Dito de outra maneira - é indispensável um clima que humanize. Basta de tapar o sol com a peneira - tudo o que não humaniza gera um clima que desumanizante...
Falei no caso da D. Laura. Citei a Dra Isabel, Pe. Alfredo e Adão. Mas podia muito bem falar de outros que já referi. Aquando da fase terminal do Snr. Joaquim, fui ao hospital, com o Snr. Pe. Telmo, levar-lhe a Sta Unção dos Doentes. Tudo tão diferente! Senti-me embaraçado. Num ambiente de camarata aleatória, não há ambiente propício a uma cerimónia religiosa, tão íntima e humanizadora - no respeito pela d'IGNIdade(2) de um "filho de Homem". "Aquilo", ali, pode ter grande significado para aquela pessoa mas, mesmo ao lado, pode ser ocasião de chacota para outras pessoas. Também respeitáveis, na sua "fé diferente".
ACHEGAS para futuras reflexões: É crime ERPIzar uma pessoa e/ou LRizar um jovem só pq nasceu e/ou contraiu alguma deficiência. O segredo está no como criar uma "família de acolhimento" que não seja só o "acolher" os euros que hão-de vir... Sabemos do nosso Riki - foi adotado; qd descobriram que era deficiente, devolveram-no à procedência... Veio para aqui. É aí feliz a apanhar folha, no seu "bólido", feliz... Tem e é "família"...
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1 - Sempre refiro a importância do conceito de díade. Um conceito que gosto de ilustrar com o exemplo da moeda - se lhe tirarmos a cara ou a coroa, já não temos mais a moeda... Assim é com as relações humanas. Se lhes tiramos o social ou o teológico, logo sobressai o inumano, o deshumano... Porque o teológico, tenha os nomes que tiver, é a outra dimensão do homem que vai além do animalzinho de luxo que é preciso tratar bem...
2 - A d'ignidade de uma pessoa advém-lhe do "fogo" (ignis!) do Espírito que nela habita.
Um admirador