BEIRE - Flash's
URGE é... Educar o Olhar
1 Isso de "Educar o olhar"... Bebi a ideia em Ruben Alves. Esse pedagogo, filósofo, psicanalista e poeta brasileiro que tanto se interessou por uma "escola nova". Uma Escola que educasse para o sucesso existencial (viver e morrer feliz!...) mais que para a competição a qualquer preço - na mira do sucesso sócio económico do individuo. Olhado como um zé ninguém que, obrigatoriamente, tem de passar pelas "Escolas do Estado". Que, se não forem vistas e revistas, periodicamente, com um olhar perfurador da realidade, tendem a vender o que mais interessa às filosofias de seus governantes...
De minhas múltiplas experiências, a partir deste alerta, cada vez estou mais convencido que o segredo da nossa felicidade passa mesmo pelo «Educar o Olhar". Aprender a ver para além dos "olhos do umbigo". Aprender a ver também com os «olhos da Razão», com os «olhos da Sensibilidade» e ainda mais com os «olhos da Fé" Isso que, em nós e com muitos nomes diferentes, sempre nos puxa para «mais vida e vida em abundância".
Gosto de ver isso assim, a cada instante - em mim, em ti, em todos quantos a vida vai cruzando comigo, neste meu peregrinar, rumo às «portas do Paraíso"... E foi assim que, neste ir caminhando de olhos abertos (tanto quanto já me é dado ver...), descobri que o "olhar" (aprender a olhar!...) também tem a ver com as nossas (necessárias mas perigosas) "grelhas de leitura" - nossos "estados de consciência", nossos "quadros de referência", nossas "cabalas mentais", ... Coisas que, lá nos tempos da infância, se copiam, se abafam, se adaptam, se criam e recriam, e que, periodicamente, também se podem ver e rever.
Visto a esta luz, que maravilha e que pobreza a deste "ser humano"! Se sim ou se não aprender a humanizar-se...
Porque a Vida assim mo tem pedido, convivo muito com Pe. Telmo. Tento compreender o mistério encantador desta vida que, aos 97 anos, ainda se deixa em pasmos de com+templ+ação pelas obras de Deus. Sobremaneira nesta criatura que é o "ser humano", quando se deixa embeber por esta teossíntese(1) de que já vos tenho aqui falado.
Era ainda no coração do Inverno. O entardecer/anoitecer acontecia sobre as 17 e picos. Saíamos da capela, depois da Eucaristia. Tinha sido um bonito dia de sol. Como faz muitas vezes, quis ficar ali, sentadinho num banco ou de pé, agarradito à sua filomena (a bengala amiga), «a falar com Jesus, que é tão nosso amigo!»... Esperei, dei-lhe o braço e saímos juntos. Ao longe, vê-se a Serra da Agrela já a esconder, do pôr-do-sol. Que, visto assim à luz das linhas do horizonte atmosférico, emoldurava tudo n'aquela epifania(2) que nos deixa de queixos caídos...
Pe. Telmo para, especado a olhar. - Que bonito é o mundo!... Que bonito é o mundo!... Olhe que maravilha!.. Jesus é tão nosso amigo!... Volta-se de novo para trás, aponta com a bengala a porta da capela e prossegue: - Ó Jesus, e nós deixamos-Te aí sozinho, fechado, por causa dos nossos pecados... Não há direito!... E logo falando para mim: - Mas Deus perdoa! Ele é Pai e cheio de misericórdia!...
2 Ver com "os olhos de Deus". Leio e releio muitas vezes Pe. Telmo. Ouço-o. Vejo-o. E, em certo momentos, até vejo todo o antes que, agora, posso ouvir/ver, assim diante de mim. Naquele carne e osso, a ser/estar commigo, não tanto pelo que me diz, mas ainda mais pelo que É. A fazer jus àquele dito de que «o que tu és fala tão alto que já nem preciso de ouvir o que tu dizes»...
Deixo o filme ir passando... Ouço histórias de menino e seu trato com os animais - a gata que, quando ia de férias, já não queria o colo das irmãs - que até ficavam com ciúmes, porque já não lhes ligava nenhum... Vejo a mouca - uma vaca brava, mas que com o Telminho até é mansinha e tudo. Vem-lhe comer à mão!... Vejo o rocha, cujas recordações são tantas que ainda chora, se lhe puxamos por elas: - Ai aquele meu cavalinho!... Só lhe faltava falar. Mas entendia tudo. Olhe que, se eu demorava mais um bocado a ler o jornal, lá nos correios do sítio, ele batia à porta a chamar-me... Fui tão injusto com ele! Não sei se o dei, se o vendi, se o quê. Não me despedi dele... Quando eu morrer, ele vai estar lá, à minha espera, a dizer: - Pra esse malandro que me abandonou, antes de o deixar entrar, mande aí umas boas chamuscadelas a ver se agora aprende que...
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1 - Por associação com o fenómeno botânico da fotossíntese, criei para mim a palavra teossíntese, para melhor entender esses nossos diá+logo com "Deus" - seja ele o "deus" do ateu, do crendeiro ou do crente em Jesus de Nazaré, cuja "Teossíntese" foi de tal ordem que O levou àquela Boa Nova de que «Eu e o Pai somos UM e vim para que todos sejais UM COM o Pai». Obrigado, ó Jesus, por Tuas horas e noites inteiras em dia+LOGO's com «o Deus de Abraão», que Te levou a uma tal descoberta.
2 -Os gregos chamavam epifania a esse clarear da aurora que anuncia a chegada do sol que vai dar vida à nossa Casa Comum da Humanidade... Com os gregos, aprendi também a ver a aurora que já está a acontecer do outro lado, oposto ao meu. E, no meu pôr-do-sol, gosto de ver a chegada da hora de «um sono tranquilo, ao fim do dia que não tem ocaso»...
Um admirador