BEIRE - Flash's

A missão de SINALIZAR

1 — Aquele sinal de alerta… Já lá vão cerca de 2.000 e tantos anos. É o primeiro sinal que nos foi dado para memória — vai e faz assim… Mas teimamos em ignorar. Somos mesmo um "sinal de contradição" — capazes de ser piores que os bichos do monte — que não tramam vinganças nem guardam rancores; e melhores que os anjos do Céu — fizeram-nos assim e ponto final, não podem mudar-se… Nós não. Temos a dita e a desdita de podermos melhorar(-nos) e/ou piorar(-nos)…

O caso é-nos relatado no Evangelho de Lucas — 10, 25-37. Vale a pena ler, reler e auscultar os ecos que estas cenas vão deixando cá por dentro — como alertas… Jesus leu o sinal e passou palavra. Para que também hoje e daqui para o futuro ninguém mais passe adiante. Como fizeram os "doutores", os "sacerdotes" e outros "comerciantes" fincados no seu negócio… Jesus via mais longe — há que cuidar do próximo. Fazer por ele tudo o que já está ao nosso alcance. Sem se esconder em desculpas de mau pagador…

Gostei de, n'O Gaiato n.o X, ter olhado para esta cena como um milagre de ação social. Porque é disso que se trata. A doutrina, muito naturalmente, espilra da ação. Porque é a ação que determina a qualidade e/ou a falta dela. Uma doutrina da moda ou uma doutrina de vida eterna — preocupação primeira d'O Filho do Carpinteiro, da Nazaré daquele tempo. Uma doutrina que arrasta vidas, a irradiar mais vida e vida em abundância (Jo 10, 10)…

Sempre dentro daquela lógica de que já aqui tenho falado — o conhecimento gera o desejo; o desejo gera o ato; o ato gera o hábito; o hábito gera o caracter; o caracter define a pessoa e traça o seu destino… E, o caracter de uma sociedade, de uma cultura, de uma política reflete o caracter das pessoas que a comandam…

2 — À semelhança do Bom Samaritano. Nas décadas 40 e 50 do século XX, Portugal inteiro, pela voz do seu povo, que é "a voz de Deus", pôde ver e canonizar o rosto do Bom Samaritano, na ação profética de Pai Américo. Ouviu-o e apoiou a sua ação milagrosa — transformar em "portugueses de lei" aquilo que era a grande ameaça do futuro — as crianças da rua, a maior escola da criminalidade em todo o mundo.

Naquela altura, Portugal inteiro entendeu e aprovou a sua tese — é mais barato prevenir o crime do que cuidar do criminoso… As Casas do Gaiato, primeiro e, como canto de cisne depois, o Calvário — tudo palavra nova, porque tirada do Evangelho: vai e faz assim… Este é o sinal da verdade, na doutrina que se prega — mostrar por obras aquilo que se ensina por palavras… Era o sinalizar um caminho a seguir. A dizer que não podemos ignorar. Veio o 25 de abril com sua revolução dos cravos e alargou aquela voz — vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar…

Conquistamos um Serviço Nacional de Saúde (SNS) — a maior conquista de abril. A par desta, um Serviço de Segurança Social — de que o ISS é o supervisor, delegado do aparelho governamental. Tudo perfeito — como Deus manda. A César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Tudo boa semente, em boa terra. Mas, de noite, nas trevas da ignorância, vem o homem inimigo, e lança a cizânia da discórdia.

Nossa nobre e bem delicada missão, hoje — aqui e agora é ajudar a pôr César e a pôr Deus no seu lugar. Para que todos possam(os) aproveitar — «a bem da Nação»… Que o mesmo é dizer: a bem da comunidade humana de que todos somos beneficiários e servidores.

3 — SINALIZAR não é só informar… Gosto de saborear as palavras. Sei que não passam de sinais convencionais que tendem a evoluir como mera descrição do mundo exterior. Sei. Mas também sei que foram criadas na mira de poder traduzir para outrem um mundo interior que dá mais vida às nossas pobres vidinhas — quando as deixamos reduzir aos mesquinhos interesses do umbigo de cada um.

Nas reuniões com o ISS, havia sempre alguém que insistia na urgência e obrigação de que os indivíduos e as organizações sinalizassem, junto das entidades competentes, os casos de crianças e jovens que correm risco de perder-se. Deixei-me tocar pelo eco desta insistência. E dei comigo a pensar que foi esse o grande milagre social do cariz profético de Pai Américo — dar a conhecer (sinalizar!) as lacunas de ordem social, naquelas duas décadas em que pôde atuar em pleno. Sinalizar! Junto de quem tivesse olhos para ver, ouvidos para ouvir e coração para sentir. Não já só como quem informa — para que venham botar a mão… Não senhor. Qual Bom Samaritano, presta os primeiros socorros, carrega às costas, tenta que outros entrem também no processo…

O milagre aconteceu. — Um só que fosse, já teria valido a pena. Mas eles são tantos!...Eles são tantos!... Entretanto, os tempos mudaram e as circunstâncias também. Mas, ainda que com outro visual, as necessidades e as urgências continuam a ameaçar milhares de crianças e jovens em risco de perder-se. E de doentes e estropeados em degradante desumanização…

É chegada a hora de acordar. Já não dá para mais desculpas de mau pagador, como, há já dez anos, apareceu em primeira página de um grande jornal — Há 12 anos que a Segurança Social não confia uma criança às Casas do Gaiato, explicando que "não cumprem os requisitos"; Ao lado de uma foto da Obra e outra explicação: "não podemos ser infiéis ao espírito de Pai Américo".

Deus louvado. Parece que os tempos estão a mudar! Assim haja quem arrisque decifrar os sinais — a pôr César e a pôr Deus, cada um no seu lugar. O lugar que mais possa contribuir para The Common Good of Humanity…

Um admirador

Escreve segundo o novo acordo ortográfico