BEIRE
Tudo fizemos para que toda ela fosse Santa...
TEM "UM CONTACTO SANTIFICADOR"... O Domingo de Ramos, no Calvário, este ano teve um brilho muito especial. Particularmente santo. Isto é, destinado a fazer ressaltar a Verdade, a Beleza e a Bondade. Essa "coisa" que, em Deus, "é uma só e mesma coisa". "Coisa" para a qual também, desde o ventre materno, todos estamos talhados.
No seu jeito de ESTAR COM todos, P.e Telmo imaginou e fez assim: Cada um com seu raminho de oliveira, reunimos ao cimo da rampa, na varanda que une os pavilhões e o salão de festas. Aí fizemos a Bênção dos Ramos. Era o abrir, em beleza, da nossa Semana Maior, vulgarmente mais conhecida como Semana Santa. O dia estava limpo. Generosamente, o sol da manhã beijava, sem distinção, os nossos doentes, os nossos rapazes, as pessoas da vizinhança que sempre se juntam a nós. A Mata do Calvário, revestida da frescura e das cores da Primavera, rescendia a festa de acolhida e de louvor. Era enternecedora a imensidão de passarinhos que, neste seu paraíso de verdura e de aconchego, se juntaram aos cânticos com que as Irmãs Franciscanas, do vizinho Colégio de Bairros, vieram brindar a nossa celebração festiva.
Entre cânticos de Hossana, Bendito Aquele que vem em nome do Senhor, sozinhos ou ajudados por algum cireneu, cada um do jeito que podia foi descendo, em procissão, até à nossa emblemática Capela Espigueiro. Aí celebramos a Eucaristia, a recordar já o sinal de contradição em que decorreu esse, festivo e trágico, final da Vida de Jesus. Uma vida que se desgastou em Mais Vida e Vida em abundância. Para que o PRO+jecto que orientou a Sua vida não desmerecesse do Projecto Humanizador do Pai.
QUINTA FEIRA DA CEIA DO SENHOR. Porque a nossa missão aqui é "lavar não só os pés" (...) mas tudo o que nestes nossos irmãos pede cuidados de higiene (do corpo e da alma...), prescindimos do ritual do "Lava-pés"... Proclamamos a Palavra que dá Vida, como desafio a que a nossa vida seja cada vez mais orientada por esse dinamismo evangelizador que actua por atracção.
Ao jantar, procuramos dar um QUÊ de festa especial. - Quem é que faz anos hoje?!... Era a pergunta que andava no ar. Em momento próprio, explicamos: - Hoje, faz anos que, pela primeira vez na História dos homens por Deus amados, se fez um "jantar de amigos" para testemunhar a Força de um Amor que se revelou Mais Forte que a Morte...
Não sei o que esta gente entende de tudo isto. Sei que também eu nem sempre entendo tudo o que alimenta a minha Fé. ISSO que sinto que me chama para a frente e dá tanto sentido à minha vida. Sei é que preciso lembrar-me que sempre que, entre nós, cultivamos um gesto de amizade que dá vida ao outro, estamos a construir o Reino de Deus; a construir um mundo onde Deus (encarnado nesses nossos gestos) possa reinar, fazendo de nós uma Grande Família de gente que se ama.
A VIA SACRA NO CALVÁRIO. Esta devoção, que faz parte dos rituais da Sexta-Feira Santa, ao longo da história tem conhecido tónicas diferentes. Via Dolorosa!... Devemo-la um pouco aos Padres Franciscanos (séc XIII), na sequência das devoções de S. Francisco de Assis à meditação sobre os sofrimentos da Paixão e Morte de Jesus.
P.e Telmo tem um jeito típico de humanizar divinizando. Ou, se quisermos, divinizar humanizando. Um contacto "santificador". Assim, fez uma coisa que nos tocou a todos: Começando com a explicação introdutória junto à cruz que preside à nossa Aldeia dos Doentes, agradeceu a presença das Irmãs Franciscanas que, com seus cânticos próprios, estavam ali para solenizar este nosso Acto de Culto. Depois, procurou que, em cada estação, por detrás da Cruz que o Carlinhos (trissomia 21) transportava, houvesse um fundo de azáleas floridas. Na fonte, lá ao cimo, foi a Sétima Estação, tendo como música de fundo o plac pic ploc pum da canção da água... A Última Estação foi já ao fundo das escadas que levam à porta de entrada na Capela. Dois melros, parece que combinados, cantavam ao desafio... Era a Mãe Natureza que, no seu saber ESTAR COMnosco, lembrava que sempre quer aliviar as nossas dores.
Dentro da Capela foi a Adoração da Cruz e a Comunhão das Sagradas Espécies. E a despedida. Só que, antes de partirmos, alguém se lembrou de chamar a atenção para o sucedido - Cruz e flores e cânticos e fonte e passarinhos... Um lembrar que tudo o que acabávamos de fazer era um desafio a que nossa vida, aqui no Calvário, seja sempre um aliviar as dores uns dos outros. Pe Telmo era a última celebração, antes de partir para Angola onde tem os seus meninos...
O COMPASSO FOI AO CALVÁRIO. Mesmo antes de começar a Via Sacra apareceu um carro. - Aquele senhor quer falar com P.e Telmo. Porque já estava paramentado, mandei dizer que agora não pode ser. Mas o senhor subiu, foi ter com ele e foi atendido... Chamou-me e ouvi o recado: - Tenho ali umas coisinhas para a Obra e, porque sou o Juiz da Cruz, gostava de trazer aqui o Compasso aos Doentes e Rapazes. Pois sim senhor, que venham.
Estava longe de imaginar o que iria acontecer. O dia estava lindo. Desde o solene portão de entrada, um tapete de verduras e flores indicava o caminho. A música parou ao portão. Entraram as três cruzes, engalanadas, cada uma com o seu séquito. Dentro do salão tudo a postos: Rapazes e Doentes, acompanhados por amigos e voluntários que quiseram juntar-se a nós. Para ajudar e dar mais brilho à Festa da Páscoa. Tudo com a d+IGNI+dade do momento. Quem foi capaz de beijar, beijou. Ainda enternecido, estou ver a o beijo do Valdemar. E do Sr. Manuel. Do Chiquito e D. Alice (ceguinhos). A D. Maria do Carmo e a Luisinha...
Uma breve explicação, antes da retirada: - A Visita da Cruz é para lembrar aquilo que hoje, na Eucaristia, ouvimos: Aqueles que primeiro caíram na conta de que Jesus está vivo foram a correr levar a Boa Notícia aos amigos. Nós, hoje, vemos Jesus vivo aqui nestes nossos doentes. Obrigado por terem vindo.
Houve palmas agradecidas e alguém voltou atrás, de olhos humedecidos: - Em nome da equipa que trouxe o Compasso, obrigado por nos terem recebido assim.
Um admirador