BEIRE - Flash's

As raízes e os ramos...

1 - Um per+curso cumulativo... Vou lá atrás na minha vida profissional. Aparece-me o Rui... Estou a vê-lo. Um atrasadinho mental, no dizer do tempo. Já sobre os 20 anos, o seu Q. I. apontava para uns 7/8 anos. Mas simpático e sempre disponível para tudo o que era capaz - se tratado com o re+speito1que um ser humano precisa para se sentir humano. Porque, se se sentisse des+respeitado, o Rui engolia, engolia até rebentar. E depois... - Parece que já nem é o nosso Ruizinho, comentavam os colegas. Entretanto, segundo os dados posteriormente recolhidos, tanto o Rui (especial) como o Artur (invisual), o Bonifácio (surdo mudo), todos foram um caso bem sucedido. Estava provado que a inserção social não é só panaceia. Preciso é saber cuidá-la... Porque era o pós 25 de Abril, o pai do Rui não descansou enquanto não o meteu no banco. Havia uma lei muito peculiar que obrigava as empresas a cumprir a sua função social - incluir, no seu staff laboral, 2% de pessoas com deficiência. Lembro, com toda a gratidão, os passos que tive de dar para aprender inserção social... Estou a ouvir uma professora do ensino especial que apostara no Rui. - É um caso delicado, mas é uma questão de paciência, tempo e muita força de vontade2. O Rui aprende cumulativamente. Parece que não entra nada mas, ao fim de um tempo, assim de repente, aquilo salta e vemos que, afinal, ele foi apreendendo... Depois, é só treinar até que fique bem registado... Mas, atenção, tudo pode regredir de repente se lhe faltarem com o re+speito que merece... Hoje, na Liturgia Católica, é a Solenidade do Coração de Jesus. Já a suar, venho do campo. Devagarinho, por aí acima, a observar o que vejo e sinto. Coração a rebentar de felicidade, neste com+tacto com a Mãe Natureza - de onde respinga todo o Mistério Central da Vida. Isso a Quem Jesus chamou de Abba, Pai / Mãe. Ai quanto me encantam estas 'descobertas' no avanço da Teologia - para que os homens por Deus amados a possam entender, tanto quanto é dado à condição humana. Deparo com aquele meu pé de xuxueiro... É-me especial. Há muito que olhava para aquele canto da ramada, junto ao muro suporte do caminho para as hortas. Ali, sempre ficava vazia - por mais que os xuxueiros se esticassem para chegar lá. Junto ao esteio suporte, havia um T gigante de distribuição d'águas de rega. Descobri que a terra era bem preta até ao fundo do esteio. Sempre que era necessário limpar os filtros do tanque, havia água que se derramava ali. Aquilo tornou-se o paraíso das ervas daninhas - invasoras e poluentes. Comecei a imaginar um xuxueiro ali plantado entre o esteio e o muro. Depois, era uma questão de o acompanhar mais de perto até atingir o cume da ramada - onde o sol o iria beijar. Sonhei, plantei, acompanhei até que, pouco a pouco, fosse subindo aonde o sol era - desde manhã até ao fim da tarde. Antes, sempre meio atrofiado; agora bonito, de folhas largas, promissor.

2 - Certo é que 'o clic' aconteceu... Ufano pela descoberta e pelos bons resultados obtidos, parei a com+TEMPL+ar o meu xuxueiro de estimação...Deixei-me entrar no templo da vida que pulsa em toda a Criação, de que somos parte integrante. Com a missão especial de a governar - para o Bem Comum da Humanidade, como já no-lo foi dito no Livro das Origens, 9, 7.Acordam-se em mim alguns rudimentos de botânica e afins: seiva, húmus, clorofila, fotossíntese... Torna-se-me claro aquilo que já começa a ser o pensar/sentir de muitos cientistas3, crentes mas não crendeiros - "Deus, Vida e Amor é uma só e mesma coisa"... Mais uma vez, ouço aquele diálogo de Enrique Fabre, nos seus 87 anos, em 1910. - Tu acreditas mesmo em Deus, Enrique?!... - Eu não, eu vejo-O em tudo!...Aconteceu ali, diante de mim. Naquele 'diálogo' permanente entre as raízes do xuxueiro (escondidas na terra) e aqueles seus raminhos viçosos, a espreguiçar-se ramada fora. Era o fruto visível do vaivém harmonioso das riquezas escondidas na terra que se permutavam com as riquezas perdidas neste ar - em que todos somos e vivemos, porque nele respiramos, nos movemos, ex(s)istimos e nos mantemos... Salto do que julgo saber para o já sei que não sei - porque me ultrapassa... Passo da fotossíntese (ciência) a uma possível Teossíntese (quem sabe?!). Um diálogo de harmonização entre as criaturas e o seu Criador. Entre mim e essa ignorada presença de Deus em nós. Fico a remoer. O 'mistério' d'o Calvário de Beire, em luta contra o tempo... Num difícil diálogo com osonhado Calvário - palavra tirada do Evangelho. Para dar frutos de inserção social. Inserção! Jamais anulação social, a título de que "eles não têm querer"... Levaram-nos daqui sem consultar ninguém. Será que quem por cá anda a dar a vida não entende mesmo nada de acção social? Como entender, então, o sábio dizer de Pai Américo: "A acção social ou é também acção teologal ou já está condenada ao fracasso"?

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1. Ai a palavra respeito!... Olhar aquela re+alidade com a d+IGNI+dade que encerra.

2..Isto mesmo é o que diz a raposa a'O Principezinho, ed Caravela, pg 69.

3.. Einstein intuiu-o e escreveu-o em carta a sua filha, só revelada em 1985.

Um admirador