BEIRE - Flash's

... Voluntários de... "boa companhia"

1. Há que "ajudar Deus" a cumprir-(Se) Era ainda muito jovem. Sei que foi lá em Singeverga. Mas lembro perfeitamente aquele "toquezinho" que, bem lá no mais fundo de mim, experimentei ao ler num "santinho" que me veio às mãos: «Deus não tem mãos — precisa das tuas; Deus não tem pés — precisa dos teus; Deus não tem boca — precisa da tua; …» Tanto quanto sou capaz de entender de mim, penso que esse "toquezinho", ora mais presente ora mais afastado, nunca mais me largou… E sei também que tem sido aqui no Calvário que esse "toquezinho" se me tem tornado mais próximo... Porque volta e meia dou comigo a dizer-me a minha necessidade/obrigação de "ajudar Deus a cumprir-Se"… Porque também Ele precisa de mim… De mim, em mim; de mim, nos outros que me vão sendo confiados; de mim, nas parcelas de lavoura que tomo a meu cuidado, enfim… Hoje, 23.10.23, 136º aniversário de Pai Américo e 58º do meu casamento, a coisa saltou mais forte. Foi assim:

Pe. Alfredo tinha de sair e, no fim das Laudes em comunidade, disse: O dr. Abel, depois, leva Pe. Telmo e Pe. João a tomar um cafezinho? E foi engraçado o diálogo que se seguiu:

Pe. Telmo: — Por mim, é escusado. Tanto tomo como não tomo. Dr. Abel tem muito que fazer, e eu passo bem sem café.

Pe. João: — Mas olhe que um cafezinho faz muito bem!...

Eu, para Pe. Telmo: — Deixe-me sentir-me útil também... É uma necessidade que sinto e gosto — ser útil! Aprendi com Pai Américo: «O homem, naturalmente, gosta de dar-se. Comunicar-se. Ser útil. O homem só é um doente. Não ama. Explora».

Saímos das nossas saborosas Laudes. De que sempre me encanto pela sabedoria de suas antífonas, hinos, salmos, leituras, preces… Pe. João, em sua cadeirinha de rodas, ajudado por Pe. Alfredo, seguiu para o carro, acompanhado por D. Bárbara e pelo Nana — que, nas suas limitações, precisa de boleia para ir tomar o seu posto de guardião da nossa portaria… Pe. Telmo fica comigo, agora a sós, no carro… Retoma a conversa do podia ter ido no carro de Pe. João, podia dispensar o cafezinho, …, para não impedir o seu trabalho – porque os chuchus estão à sua espera…».

Bom, mas tudo estava encaminhado para eu o trazer e, depois, irmos os três tomar um cafezinho. E a conversa virou no que se segue:

2. Um cafezinho para Pe. Telmo e Pe. João… — É que assim, quando formos os três tomar um cafezinho, até podemos brindar-nos com a bênção da companhia uns dos outros, etc., etc., etc. O dia está de sol ainda a subir... A temperatura está amena.

Hoje, com este solzinho, até apetece, a título do cafezinho, ir ver o rio Sousa a saltar da levada do moinho, em Novelas, ou a passear-se rodeando aquela ilhazita, no Parque da Cidade…

Entretanto, passa por nós a D. Glória, que volta e meia aparece por aqui. Discreta, na hora própria, leva com ela um grupinho de doentes que ainda se vão arrastando… Ainda são capazes de, com a presença de alguém que tome conta, ir dar um passeiinho a pé.

Converso com Pe. Telmo sobre o bonito papel dos voluntários numa instituição como esta. Porque também o voluntariado é um mundo a descobrir continuamente. Aqueles que vêm um/uns dias por semana e fazem de tudo o que é preciso e são capazes; os que aparecem só em dias de sol para levar os doentes até à quinta. Apanhar o ar fresco das nossas matas; sentirem-se queridos; sentirem que alguém tem tempo e gosto para estar-com eles, em proximidade física. Sentir que é no silêncio que, muitas vezes, descobrimos o valioso preço d'essa proximidade. O preço da proximidade psico afetiva — isso que faz com que aquela pessoa se torne assim tão importante. Numa reciprocidade amorosa que alivia dores e cura dos perigos de desespero - que ataca nas ERPI's

Tudo coisas tão importantes para a nossa saúde emocional! Voluntários, sempre em doce companhia — sem ser preciso estar a dar "venenos de boca", beliscando as regras da Casa, em prol da saúde dos doentes…

3. Os voluntários sempre na baila… Foi assim que, mais uma vez, fui "assaltado" pelo tema voluntariado. Ai como gosto de ver um voluntário feliz — a irradiar felicidade no serviço aos doentes! E à equipa que, com eles, vai construindo o novo Calvário. Ai quanto sofro quando os vejo ausentes e/ou presentes, mas sem jeito — porque ainda não sabem estar com esta realidade — que é a nossa... E dou comigo a sonhar com aquele tal voluntariado XPTO de que já aqui falei (22.07.17). Consciente de que «sozinho ninguém sabe tornar(-se)(1) um bom voluntário»; Consciente de «ninguém sabe ensinar ninguém a tornar(-se) um bom voluntário». Mas consciente também de que, «em comunião sinodal», podemos ir aprendendo a tornarmo-nos uns aos outros uns voluntários muito bons… Recordo: «Um voluntário tem de ser uma pessoa que se sinta em processo de tornar(-se) pessoaser-em-relação». Relação consigo próprio, com os outros, com a vida, com o mundo e também em relação com Deus – seja qual for a ideia que d'Ele se faça…

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1 Ver a nota d'O Gaiato de 23.03 24, sobre este significativo deste se

Um admirador

[Escreve segundo o acordo ortográfico]