BEIRE - Flash's
Calvário - um «campeão do mundo»…
1. Da Farmácia até «nossa Casa»… Achei piada ao dito e fiz dele meu «guia e mestre». A par do «único guia e mestre de todo o pensamento válido» – a realidade… Diz o 'dito': «Viver é colher o seu próprio cacho de oportunidades na vinha da aventura…».
Precisei de passar pela Farmácia. Estava um ror de gente. Enquanto esperava pela minha vez, poisei os olhos na revista Holon, nº 66 (2024), cuja capa mostra o rosto sorridente do nosso «campeão do mundo» em natação – Diogo Ribeiro. Chama-me a atenção a legenda que ilustra a foto daquele jovem de 19 anos: «Ser campeão do mundo não me vai mudar como pessoa»… E, porque gosto de adivinhar o «perfil» que comanda a vida de quem me desperta a atenção, peguei na revista e trouxe para casa – coisas sérias precisam ser ruminadas em «ambientes de silêncio e quietude»…
Chegada a hora, no silêncio do meu quarto, começo a ler e registo pormenores de respostas que aquele jovem dá a perguntas jornalísticas que o entrevistador lhe põe – O que o deixa ser feliz?
– «Ver a minha família bem. Saber que a minha mãe está bem. Essa é a minha prioridade. Quando o meu pai faleceu foi a pessoa que sempre lutou, até deixou de comer para que eu e a minha irmã tivéssemos condições. Para mim, a família e a saúde são tudo».
Apaixonado pela Ciência, Técnica e Arte (CTA) da comunicação, desde há muito que tomei como norma de vida aquele dito de um mestre que me foi moldando: «Mesmo na certeza de que a mensagem não vai ser recebida, não estás dispensado de a enviar»… Não podia perder esta: o testemunho da im+port+ância(1) de uma boa família, com «pai/mãe // mãe/pai» (o Abba do Evangelho), na vida de um ser humano. E/ou na vida de um grupo de pertença. Como que por um disparo automático, o tema das «Mães» da Obra da Rua impôs-se-me. O nascer das Casas do Gaiato e da Obra da Rua (de que o Calvário é o 'canto de cisne') teve essas «mães» como sólido alicerce.
E o futuro, se continuarmos a resistir às tempestades que sempre ameaçam esta barca, não poderá nunca dispensá-las. Porque «Deus os criou homem e mulher» – para se darem as mãos e tomar a seu cargo o mundo d'os homens por Ele amados. Ajudando-se mutuamente, em reciprocidade de comunhão amorosa.
2. «Uma boa equipa do meu lado»… Interrogado sobre «qual é o segredo para ser campeão do mundo», o que salta ao Diogo é «tinha uma boa equipa do meu lado». Não foi aí que referiu a mãe, mas no decorrer da entrevista, percebemos bem que ela terá sido o elemento (alicerce firme) que mais pesou a somar ao trabalho dos técnicos que refere…
Acho que é da experiência de todos os que se dão tempo para pensar, tempo para rezar, tempo para amar, tempo para rir, tempo para trabalhar… Acaba-se sempre por descobrir que «a força do sucesso» e «a fonte do poder» está no dar-se tempo para ser… Mesmo sabendo que a palavra «poder» é mais usada como sinónimo de «opressão» do que como sinónimo de «autoridade»… Essa que atribuíam a Jesus, por contraste com o «poder» dos escribas, fariseus e doutores da Lei (Mt 7, 29). A entrevista do Diogo revela já a «autoridade» com que ele fala a um jornalista – que busca o sensacional…
3. Um Calvário a espirrar Evangelho. O «campeão do mundo» reacende em mim o sonho da palavra nova, única, irrepetível. Com tempo para«pensar» em equipa,tempo para «rezar» em comunidade», tempo para «rir» em grupo, tempo para «amar e ser amado»…Porque, para vivermos minimamente equilibrados, volta e meia, todos sentimos a falta dessa «maior força sobre a terra» (a oração), dessa «música do espírito» (o rir), desse «privilégio que Deus concede a cada um» (o amor).
É certo que «Deus nunca falta». Pois. Mas também é certo que Ele não Se impõe a ninguém. Ele só está junto d'aqueles que Lhe abrem as portas da sua im+port+ância… E tudo fazem para acolher o Seu amor «encarnado» n'os últimos – a cheirar a ovelha…
Deixo-me tocar pela entrevista do Diogo. A sua paralinguagem (entrelinhas!) é ainda mais eloquente que a sua linguagem verbal. De princípio a fim, a tónica mantem-se no «para mim, a família e a saúde são tudo»(2) – eco do bonito trabalho daquela mãe que «até deixou de comer» para que os seus «tivessem condições»…
Naquele «para que tivéssemos condições», referido à luta de sua mãe, aliado ao seu «agora sei que tenho prioridades» e o, também seu «não posso arriscar» fala-me da busca de um equilíbrio sedutor. A sua realização pessoal aliada à sua realização grupal. Em seus grupos de pertença. Com um tipo de mãe/pai // pai/mãe (alicerce) a nível da família de sangue e das famílias de coração.
Sem essa base não vejo Calvário nem Obra da Rua que resista. Hoje, a barca de uma «ação social» à altura das exigências do nosso tempo (o tempo em que temos o privilégio de viver!) já não consegue «ação social» de jeito, sozinha. Nem só com Deus nem só com César…
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1. Ciência da «gestão» do abrir e/ou fechar as «portas» ao que entra e/ou sai de nós para os outros de quem somos parte…
2. Gosto de ver aqui ressonâncias do Evangelho – «libertação» e «proximidade».
Um admirador
[Escreve segundo o acordo ortográfico