BENGUELA – VINDE VER

Visita saudável

Recebemos com alegria a comitiva que acompanhava a Senhora Directora dos serviços provinciais do Instituto Nacional da Criança (INAC). O objectivo da sua deslocação a nossa Casa foi o de constatar as condições em que vivem as crianças dentro do nosso lar familiar. A recepção foi das melhores. O grupo dos mais pequeninos esteve em destaque com as suas vozes sonantes e cheias de emoção fizeram chegar aos ouvidos dos presentes a canção habitual de boas-vindas. De seguida, foram recolhidas algumas notas importantes sobre o historial da nossa Obra, o número de crianças, o projecto educativo, a sustentabilidade da vida dos habitantes da nossa Casa, a orientação dada a cada criança tendo em conta a sua educação e formação para a sua vida autónoma num futuro próximo. Percorremos as instalações da nossa aldeia. Viram o refeitório, e os refeitoreiros a prepararem tudo para servir a sopa, era meio-dia. Fomos para a cozinha e ficou a promessa de ser servido um prato para cada um dos visitantes na sua próxima deslocação á nossa Casa. Até lá, nos ocupamos em trabalhos para não faltar no tacho, caldo quente para dar de comer aos nossos meninos. Subimos as escadas finas da casa Mãe, onde dormem 12 rapazes dos 5 aos 9 anos de idade. A senhora directora e todos os seus colaboradores de ofício, elogiaram os pequeninos "artistas" da casa Mãe. Tinham tudo nos seus devidos lugares, tudo arrumadinho. A sala de jogos também foi vista e de tão contentes que estavam todos desceram até ao refeitório para o almoço. As visitas seguiram para outros centros de acolhimento de Benguela.

No corredor da rouparia e lavandaria e na passagem para a cozinha, há um Aquário cheio de algas, e também cheio de peixes. Ao lado encontrei um novo jardim. Procurei pelo seu arquitecto e um dos rapazes disse que era do «Dani». Fiquei admirado que a hora do almoço o rapaz foi chamado diante de todos antes da oração final. Ele, compareceu. Todos esperavam por mais uma correcção ao comportamento artístico do nosso pequeno obreiro. É que o «Dani» é muito famoso cá em Casa. Quando há massarocas (milho verde no campo), ele não falta as visitas ao campo e vai ao fogareiro e, de bem assadas que ficam, come-as sozinho. Por estas e outras aventuras «Danianas» esperava-se por um bom castigo, mais um para servir de exemplo a todos. E desta vez não foi assim, o rapaz pregou-nos uma surpresa agradável ao exercitar as suas habilidades para fazer o bem. Continuei então diante da comunidade. Sabeis porque é que o «Dani» está aqui em frente? Pois então, ele fez um jardim. Tão bonito que está que até merece uma prenda. Todos ficaram admirados, desarmados. Desta vez merece o nosso aplauso, o nosso abraço pelo progresso no caminho do bem. Do bem fazer, para ser bom. Deus criou-nos para sermos felizes e ser feliz é ser bom. E para ser bom é preciso exercitar a virtude. Evitar o mal e regar o bem para que germine e cresça dando pequenos frutos em forte ascendência para moldar a personalidade do rapaz. Quando o rapaz faz o mal que não quer e deixa de fazer o bem que gostaria de fazer é ajudado e aconselhado a abandonar este caminho errado. E quando chega a altura para acertar o passo e começa a praticar o bem, nos alegramos e confiamos mais no rapaz. A confiança é também suportada por uma base forte de bondade. A confiança é depositada nas mãos das pessoas boas. A bondade atrai muitas outras virtudes. O que é bom chama também a responsabilidade a seu favor. Obrigado, «Dani», elevo o meu olhar para o alto do Céu, para dizer ao nosso Bom Deus, Obrigado. Estamos com a ajuda Divina a fazer daqueles que eram tidos como inúteis pela sociedade, instrumentos de restauração da beleza e da bondade expressas em pequenos gestos. Espero pela mudança de comportamento de outros tantos "Danis" que temos em Casa. Este nosso bom artista já foi tocado pelos ventos favoráveis que o levarão a bom Porto. A conclusão é de Pai Américo: «Não há rapazes maus; mas é muito difícil torná-los homens bons, quando começamos tão tarde a conhecê-los. É no berço que se forma a criança, sobretudo crianças desta natureza.»

Padre Quim