BENGUELA

Temos esperança…

Hoje é Domingo. O nosso primeiro acto comunitário, após o descanso da noite, foi a participação na Santa Missa. Somos uma família cristã. Desde os mais pequeninos aos mais velhos, fazem a sua preparação, na véspera, com o ensaio dos cânticos e das Leituras. É, sem dúvida, um momento único e muito importante da vida semanal. Constitui um verdadeiro foco de luz e uma fonte de energia humana para enfrentar as resistências que surgem, ao longo do caminho da vida, nesta fase de crescimento. Após o pequeno almoço, houve a reunião dos Chefes da Comunidade. São os autênticos ajudantes responsáveis pelo bom andamento da vida comunitária. Desde pequenos, entraram na Casa do Gaiato, como filhos abandonados, sem a família que lhes garantisse a educação normal. A partir da fase das suas vidas, em que se mostraram capazes de prestar a sua ajuda na educação dos seus irmãos, alguns foram escolhidos para essa missão de Chefes. Desempenham o papel dos irmãos mais velhos, numa família humana normal. Ajudam os filhos mais novos no caminho da educação, com o acompanhamento no cumprimento dos seus deveres. Numa família, com a dimensão da Casa do Gaiato, só com a ajuda destes filhos se pode realizar a missão educativa. Doutro modo, não seria possível levar para a frente essa tarefa maravilhosa.

São necessários, contudo, encontros regulares com os primeiros responsáveis da Família que são os pais sacerdotes. Não são rapazes perfeitos. Através da abertura dialogante nestes encontros, é possível um conhecimento mais perfeito da situação comunitária. As Casas do Gaiato são Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes. Os Chefes, em referência, realizam esta missão de responsáveis directos que acompanham os seus irmãos. Daí, nasce a importância que têm na vida da Casa do Gaiato. Pai Américo assumiu a responsabilidade básica educativa destes filhos. Deixou a herança aos seus sucessores que, por vocação de Deus Pai, entregaram as suas vidas nas diversas Casas do Gaiato. Há situações aflitivas nesta dimensão. Temos a Casa do Gaiato de Maputo, Moçambique, sem o Pai sacerdote. A querida Irmã Quitéria faz o papel de Mãe, até que o Pai do Céu desperte uma vocação sacerdotal, disponível para deixar tudo e entregar a sua vida aos filhos abandonados. Situação semelhante acontece no Calvário, a Casa de Família dos doentes incuráveis abandonados. Temos esperança e muita confiança no Amor do Pai do Céu.

Os pedidos para o ingresso de novos filhos abandonados, na nossa Casa do Gaiato de Benguela, continuam a bater à porta do nosso coração. O atendimento favorável continua a ser impossível, porque há falta de empregos para os filhos mais velhos que já deviam estar na sua autonomia, fora da Casa do Gaiato. Continuamos a bater à porta das várias empresas. Aguardamos, com sofrimento e paciência. Há, também, pobres que vêm dos bairros vizinhos, em situação aflitiva, à procura duma ajuda. Estamos a fazer o que podemos. Recebemos, há dias, uma oferta admirável a que não estávamos habituados, com regularidade. O responsável dum Supermercado, muito conhecido em Benguela, telefonou-me a comunicar que fosse o mais rápido possível, com a carrinha, à busca duma oferta, efectuada por uma pessoa amiga, de Luanda, muito amiga da Casa do Gaiato de Benguela. Assim aconteceu. Vieram géneros alimentares, em quantidade variada e consoladora. A porta do Supermercado ficou aberta. Este donativo faz parte da resposta à pergunta que nos é feita com muita regularidade: A Casa do Gaiato de Benguela tem meios económicos, financeiros e alimentares para viver? Sim, vivemos do que nos dão! Este é um exemplo. Quando necessitamos de material escolar recorremos à livraria Oliveira e Ligeiro, extraordinariamente amiga e generosa. Há momentos, um grupo de jovens, da cidade do Lobito, que veio passar connosco uma parte do seu dia de Domingo trouxe-nos um donativo alimentar muito generoso. A nossa vida está nos corações cheios de amor. Recebei um beijinho dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela. 

Padre Manuel António