BENGUELA

Vivemos, há poucos dias, um momento feliz, na vida da nossa família da Casa do Gaiato de Benguela. Um dos grandes problemas actuais é a falta de emprego para os rapazes mais velhos. Estão, neste momento, a ocupar o lugar doutros filhos abandonados que vivem na rua. Os pedidos de acolhimento em nossa Casa do Gaiato são constantes e em grande número. O Caminho de Ferro de Benguela abriu as suas portas a três rapazes. Terminaram o curso médio industrial. Aguardavam, como muitos outros, a oportunidade do emprego. Ao fim de bastante tempo de espera, chegou a hora de serem atendidos. Seguiram para a cidade do Huambo, para fazerem uma preparação específica para o desempenho das funções que lhes serão atribuídas, dentro da empresa. Foi, sem dúvida, um momento feliz para os mesmos e para toda a comunidade. Oxalá tenham um bom comportamento.

Antes de partirem, tivemos um encontro para acentuar a responsabilidade que iam assumir. As consequências dizem respeito às suas próprias pessoas e também aos seus irmãos que ficaram ainda na nossa Casa do Gaiato. Pedi-lhes que o seu testemunho de vida fosse uma porta aberta da empresa para o acolhimento doutros irmãos que estão à espera do emprego. Alguns já fizeram o seu curso médio industrial e esperam a hora da partida. Temos muita esperança. A Casa do Gaiato faz tudo o que pode e sabe para dotar os seus filhos destes tesouros com os quais se abrem, com dignidade, as portas para as suas vidas. Os filhos abandonados têm capacidade, como os filhos que vivem em famílias normais, para ser uma riqueza humana da Nação, se tiverem condições. A nossa Casa do Gaiato de Benguela quer ser a Casa de Família destes filhos.

O amor do coração de cada benfeitor é pedra básica do alicerce deste edifício, com as suas ajudas financeiras. Há poucas horas veio ter connosco o Zacarias com sua esposa e os três filhos. Foi um rapaz criado na nossa Casa do Gaiato de Benguela. Estudou e fez o curso de engenharia. Tem, neste momento, 37 anos e casou com a Josefa. Ambos são funcionários em repartições do Estado. Autêntica maravilha! Vieram visitar-me, a propósito da minha celebração dos 61 anos de sacerdote, ao serviço da nossa querida Obra da Rua, da qual a nossa Casa do Gaiato de Benguela é um ramo. É, sem dúvida, uma maravilhosa concretização do princípio fundamental da Casa do Gaiato: fazer de cada Rapaz um Homem. Por isso, são absolutamente necessárias as ajudas financeiras dos vossos corações. Assim tem acontecido. Doutra forma não seria possível a realização deste projecto social e verdadeiramente humano. Continuamos, pois, com muita esperança na generosidade e grandeza dos vossos corações humildes.

Há dias, chegou um grupo de cinco raparigas jovens e um rapaz, pertencentes ao grupo cristão O Grão. Veio de Portugal. Vai permanecer connosco durante algum tempo. São corações, verdadeiramente apaixonados para o auxílio educativo, por amor exclusivamente, às crianças e jovens da nossa Casa do Gaiato de Benguela. É uma presença muito querida, cheia de amor, que anualmente vem estar connosco. Que os seus corações se mantenham felizes com o bem e a alegria que fazem e comunicam aos filhos desta nossa Casa do Gaiato de Benguela.

O segundo período escolar está a terminar. Os filhos estão a preparar as provas com todo o nosso cuidado e acompanhamento para que tenham bons resultados. Alguns, como acontece nas famílias normais, são mais resistentes. Vamos continuar com muita paciência e amor a incitá-los para o bem. Tivemos necessidade de algum material escolar que não possuíamos. Batemos à porta da livraria Oliveira e Ligeiro. Como tem acontecido, noutras ocasiões, fomos atendidos com todo o carinho, como se fosse membro desta grande família que é a nossa Casa do Gaiato.

Acontece algo de semelhante, relativamente ao fornecimento do peixe necessário para a nossa alimentação. Hoje, de manhã, fui com o nosso filho Bebeto, trabalhador no porto do Lobito que, nos dias em que não trabalha vem dar a sua ajuda nos trabalhos da nossa Casa que foi sua também. Conduziu a nossa carrinha até às pescarias na Baía Farta. A empresa de peixe Vimar & Filhos tem sido admirável na sua generosidade. Ajudou-nos também a pescaria Sede. Estas ajudas são, na verdade, um estímulo de muito valor para a nossa vida. Vamos continuar a trabalhar com muita confiança e muita esperança, dando as nossas vidas por amor destes filhos. Recebei um beijinho com muito carinho dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela.

Padre Manuel António