BENGUELA - VINDE VER!

Sementeiras

A natureza é mãe e ensina que os tempos mudam e com eles os mais variados modos de produção. Quem vive numa quinta com campos semeados e gado, sabe quando e como orientar o seu estilo de lidar com harmonia, paz e prosperidade, com as várias fases do ano.

Por estas paragens da África a sul do Saara, o calor se faz sentir de forma imperiosa não dando tréguas a outras estações de maneira equilibrada. Nos doze meses do ano civil, só durante três meses é que surge a alternância do clima. Nesta altura do ano aproxima-se a estação mais seca e relativamente fria. As culturas também alternando, dão lugar às hortícolas.

Neste momento, em nossa Casa do Gaiato começámos a planificação dos trabalhos para esta fase do ano tendo em conta as condições de breve transição das condições climatéricas. A experiência nos ensina que quando as pessoas estão preparadas para assumir um novo desafio, então é mais fácil acontecer a prosperidade.

Recebemos da família de Portugal, muitas sementes e chegaram mesmo a tempo. Começámos a preparar os campos. O «Venâncio» leva no tractor a charrua e depois a grade, e fica numa manhã a terra lisinha, pronta para acolher e embalar as sementes para o sono da vida nova, espigadas.

O grupo de rapazes está preparado para lançar mãos à terra. Semear, cuidar, recolher e voltar a confiar na próxima colheita. Já estão feitos alguns dos viveiros na zona da vacaria. Cebola, tomate, beterraba, abóbora, couves e. para o gado, um hectare de luzerna. A batata doce já foi lançada à terra, e aguardamos pela semente da batata rena. O ano passado não cultivámos. Eram muito caras as sementes. Esperamos conseguir alguma para colher, pensando ser parte importante para a refeição dos rapazes, sobretudo conservá-la até ao Natal.

Continuamos com o problema da rega. Sendo uma zona do litoral sul, as chuvas são escassas e os ventos na estação seca são destruidores de plantações, o sol é ardente e queima se não houver condições de irrigação. Aguardamos com muita confiança por um sistema bem melhor para fazer chegar a água às plantações. Um pivô, e as respectivas condutas. E motores para puxar a água que fica a quinze metros da superfície.

Na escola dos rapazes também houve alternância de um trimestre para o outro. O ano lectivo encaminha-se para a sua fase conclusiva. As sementeiras foram feitas e acolhidas pela inteligência dos nossos rapazes, veremos o cuidado para não caírem na linha do esquecimento, augurando por uma grandiosa colheita de bons resultados escolares. A sala de corte e costura também tem boas sementeiras, os alunos já sabem fazer boas costuras. As máscaras que levamos na face são feitas em Casa por eles, cortinas e trajes africanos também é parte da sementeira bem-feita pela professora «Alice», que dirige os cursos. Disseram os companheiros do «Bongue», que o mesmo tinha sido expulso logo nas primeiras aulas por indisciplina. Hoje quando andava a dar algumas voltas por aquelas salas, notei que estava lá perto da professora a consertar um ferro de engomar, valendo-se dos seus conhecimentos adquiridos no tempo em que esteve bem-comportado na oficina de electricidade. Vamos a ver se em breve possa regressar ao posto perdido por culpa própria, depois deste tempo de penitência. Qual penitente! Por enquanto tem estado metido em trabalhos do campo. Semeia milho, rega e espera a colheita. No período inverso vai ao Instituto Médio Politécnico, a estudar. A conclusão é de Pai Américo, «Aqui em Casa nem todos chegam às suas obrigações pela altura de cada um, mas pela habilidade sim. A necessidade obriga-os a tirar grandes efeitos e eles chegam, de qualquer forma, aonde é preciso chegar.» - Isto é a Casa do Gaiato, 2.° vol., p. 234.

Padre Quim