BENGUELA - VINDE VER!

Casa de Família

Estes dias que são os primeiros do novo ano lectivo, têm sido marcados por frequências de idas e voltas aos Institutos Médios da cidade, onde se encontram a estudar os nossos rapazes que fizeram exames do 9º ano de escolaridade e que tenham ficado aprovados. Cada vez mais crescentes são as dificuldades para o ingresso dos novos candidatos. Também somos concorrentes todos os anos às vagas que são abertas nas escolas, e tão limitadas que são levam-nos a experimentar muitas vezes a incerteza e elevados níveis de ansiedade. Vou na carrinha com diferentes grupos em direcção à escola para poder encontrar a resposta da opção da escolha dos rapazes segundo as suas aptidões e preferências em relação à carreira estudantil e profissional. A orientação vocacional é exigente. Numa família alargada como a nossa, composta por 130 membros e igual número de sonhos, requer coragem e audácia para os ajudar a tornar realidade. A família é por excelência esse espaço e lugar do acolhimento, da promoção da aceitação, e da integração de cada um dos seus membros no lugar certo para intervir com maior grau de qualidade e satisfação pessoal no exercício das responsabilidades desempenhadas por todos e cada um dos rapazes.

As Casas do Gaiato continuam a ser Casas de família, para responder à grave lacuna que a sociedade tem quanto à permanência de crianças da rua em condições de abandono. Nesta última semana chegaram cinco crianças de Luanda, dois do Huambo, três dos arredores da cidade de Benguela, vimo-nos aflitos para arranjar os colchões. As camas são feitas nas nossas oficinas. As roupas de cama foram arranjadas na nossa rouparia. Todos os dias chegam inúmeros pedidos para acolhermos mais um, dois ou três rapazes. Já temos a casa cheia. No refeitório as mesas para tomarmos as refeições são constituídas por oito rapazes em dezanove mesas.

Para arranjar as quatro refeições ao dia é uma luta grande. Temos a cozinha número 1, para 138 onde é feita a refeição dos rapazes, segue a cozinha dos trabalhadores efectivos 55 operários e por último a cozinha numero 3, onde é feita a refeição para o pequeno-almoço e o almoço para 32 colaboradores eventuais.

Às vezes de tantas aflições de cada dia em busca de soluções para os desafios da nossa vida como família, surgem alguns sinais de esperança. Ainda há poucos instantes enquanto escrevia estas notas para o Vinde Ver! Telefonou-me o Senhor Engenheiro Eduardo pedindo o número de rapazes, os tamanhos das roupas, com muita vontade de nos ajudar. Lembro-me dos gestos de generosidade da Senhora Dona Leonor de Luanda que não nos esquece de enviar a sua oferta para os nossos mais pequeninos.

Nesta hora do dia, do primeiro andar do nosso escritório vejo cair de repente o entardecer. Vai ser noite, o meu pensamento já se deslocou para o dia de amanhã. Com ele os desafios e sonhos de cada um dos rapazes. Quando nascer o novo dia com a Bênção de Deus iremos outra vez juntos em busca dos meios que favoreçam a concretização deste grande objectivo da Obra; "Fazer de cada Rapaz um Homem". A conclusão é de Pai Américo: «Educando a criança como ela deveria sê-lo em sua casa, no seu meio, dentro das possibilidades da família. A Obra deve girar nos moldes da Família enquanto o miúdo lhe não puder ser restituído. E se este a não tiver, há-de sair do Ninho capaz de a construir, pela prática que teve dela. A Casa do Gaiato é uma Obra eminentemente social e familiar.»

Padre Quim