BENGUELA
Pelo menos um futuro melhor
Ao chegar a Casa pela avenida dentro rolam em linha contínua os pneus da carrinha, ao lado marcham os alunos de batas brancas com o logótipo do Gaiato, centenas de crianças, adolescentes e jovens perfilando pelas laterais entre o verde dos arbustos e o asfalto. No centro, passa o carro branco da rua. Vai muitas vezes à rua e quando regressa a Casa duas ou três outras situações preocupantes da vida da Casa muitas vezes ficam resolvidas, transformando-se em novas oportunidades para os nossos rapazes. Regressam para as suas casas os pequenos heróis do amanhã. Cerca de 1600 crianças externas matriculadas na nossa pequena escola de apenas oito salas. Inicialmente projectada só para os rapazes internos, estando hoje longe de responder à enorme quantidade de pedidos de matrículas, e todos os anos cada vez mais crescente, devido ao elevado índice de natalidade e à incapacidade de respostas das escolas das comunidades vizinhas quanto às vagas e também a busca de uma educação de qualidade e integrante, tendo em conta a educação religiosa e Moral, alinhada com a vertente prática e profissional, como acontece nas oportunidades de frequentar um curso de informática conduzido pelos nossos rapazes de Casa, que o exercem na categoria de monitores. A outra oportunidade é o acesso ao curso de corte-costura, conduzido por alguns pequenos mestres, que terminaram a primeira edição com distinção, orientados pela professora "Alice".
Pela manhã é vistoso o rol de preocupações que todos os dias me são apresentadas pelos rapazes, a escola, o comportamento, a saúde, a lista de compras nas mãos dos despenseiros, os problemas das oficinas e do campo e também os seus próprios problemas pessoais em grande efervescência, qual chama ateada e cavalgada pelo vento que sopra para onde quer. As despesas! Os pobres à porta! E a bolsa muitas vezes completamente vazia. Pedem, exigem, gritam, irritam-se. Enfim... depois tudo se concerta e fica tudo bem.
Hoje pedi aos rapazes do escritório o "Avelino" e "Sozinho", para actualização da lista de presença dos rapazes que estão em Casa neste preciso momento. Somos hoje uma comunidade de 142 rapazes, vindos de várias regiões do País. Diante desta confirmação o pensamento vai para as inúmeras necessidades da vida da Casa. Como diz o ditado "filhos criados, trabalhos redobrados". Os meios humanos e recursos financeiros e económicos são cada vez mais escassos, e isto preocupa, consome grande parte das horas do dia. Confiamos na Divina Providência, Ela nunca abandona os pobres. Queremos contribuir para a garantia da aspiração mais profunda das crianças pobres e abandonadas: "Pelo menos um futuro melhor". Não fechemos a porta do nosso coração a este grito sonante dos mais pequeninos que desejam ser homens do amanhã. A conclusão é de Pai Américo: «A todos os sistemas de educação, a todos os processos infantis que a ciência recomenda, preferimos inculcar no ânimo destes mais pequenos o hábito do trabalho, sem, contudo, menosprezar tudo quanto vem nos livros.»
Padre Quim