BENGUELA - VINDE VER!
De Benguela a Malanje
Tivemos a visita feliz e tão esperada, do nosso caro Padre Rafael na nossa Casa do Gaiato de Benguela. Foram dias muito alegres, marcados pela fraternidade sacerdotal, num ambiente familiar e de boa convivência com os nossos cento e quarenta e quatro rapazes de Casa e com os demais colaboradores das áreas das oficinas, do campo agrícola e da pecuária. O pessoal da escola encontra-se em gozo de férias de final de ano lectivo, e não fizeram parte desta alegria que nos trouxe o Padre Rafael, das experiências, dos conhecimentos e das realidades próprias da Casa do Gaiato de Malanje. No seu coração de pai de uma grande comunidade vieram os rapazes todos, os trabalhadores, as Irmãs e todo o pessoal que dedica a sua vida em benefício dos nossos rapazes. Certamente veio na memória a imagem do céu azul estampado nas águas da lagoa de cima e de baixo, do pomar de cima e de baixo, dos campos cultivados no tempo do cacimbo e dos tanques repletos de tilapias. Oh, Malanje terra de chuvas e sol ardente em Novembro, de manga goiaba do pomar de baixo e das goiabas da Carianga, alegria dos «Batatinhas» no Domingo à tarde!
Estávamos a terminar a reza do Terço quando o carro do «Luís» parou junto do refeitório. Eram quase oito da noite, chegava o Padre Rafael na sua também Casa de Benguela. Na viagem de Luanda a Benguela juntaram-se mais duas Voluntárias vindas de Portugal para uma experiência de Missão a Benguela. É a mana «Sara» que é de Penafiel, vizinha da nossa Casa do Gaiato de Paço de Sousa e a mana «Antonieta». A comunidade já esperava, fez-se então ouvir o cântico de boas-vindas. Cantado na voz dos nossos rapazes assim: «Sejam bem-vindos nossas visitas aqui na nossa Casa. Um belo dia Cristo nos deu a nossa gratidão»! palmas e mais palmas! Assim é a comunidade, assim é a família acolhendo quem está chegando. Dias depois chegou também a mana «Maria da Graça», que veio de Coimbra, e também partilhou com a comunidade a sua experiência de vida. Na casa-Mãe, junto a camarata dos «Batatinhas» no andar de cima no quarto ao lado ficou hospedado o Padre Rafael, e no rés-do-chão encontramos a nossa despensa e o chefe dos mais pequenos é o despenseiro. E às quatro da manhã gritavam pelo açúcar ao «Renê» todos os dias incomodando o descanso. Foi no final da visita que apareceu o «Renê» para despedir-se do Padre Rafael os dois cheios de alegria e eu ao lado também e a ouvir as fitas que o cozinheiro e o despenseiro fizeram. No fim era só sorrisos. Que bom!
No Domingo XVIII do Tempo Comum, presidiu à Eucaristia na comunidade o Padre Rafael. Estiveram presentes os rapazes de Casa e vários movimentos de apostolado vindos das comunidades e paróquias da Diocese, que estiveram em regime de acampamento na nossa aldeia.
Ficamos alimentados pela palavra que nos transmitiu na experiência partilhada na homilia. Na cozinha também fizemos alguns pratos. O Padre Rafael ensinou a fazer almôndegas, que estavam muito boas, eu apenas fiz um prato de calulu, e um molho de gindungo que fez tossir quem provou. Os padres também sabem cozinhar. Quem provou, gostou! Nas nossas conversas falámos muito desta saudável aproximação das Casas de Angola e possibilidade de trocas de experiências entre os rapazes das duas Casas, como já acontece agora com o «Fernando», que veio de Malanje e quer estudar na Universidade o Curso de Radiologia. Já se encontra inscrito no Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela, se Deus quiser e os homens também, teremos em poucos anos um médico formado em Benguela para servir a Casa de Malanje. Quase duas semanas depois chegávamos a Malanje, fui ao volante levar o Padre Rafael, mil e tantos quilómetros por via terrestre. O bilhete de avião estava muito caro. Só de Benguela a Luanda custava o bilhete cento e vinte mil cuanzas. Então fomos de carro, e chegámos ao anoitecer e estavam os rapazes à espera para as saudações. Foi outro momento grande em família. A conclusão é de pai Américo «Cada casinha é um lar. O chefe, que é o pai de família, sairá da Casa do Gaiato para a constituir. Em cima, habita-se; em baixo, oficinas; fora, horta e jardim. Vida independente; escola e capela comum. Domingos, confraternização. Ai que coisa tão disparatada! Dirão os mestres de pedagogia. É que não amam. Se tiveres mil pedagogos nenhum é pai como eu sou, dizia o Apóstolo aos do seu tempo. Se não és pai, não és mestre.»
Padre Quim