BENGUELA

Sinais de Fraternidade

Um dos segredos da nossa verdadeira felicidade está no amor ao próximo. O egoísmo humano que leva cada um a pensar, apenas em si mesmo, rouba-nos a forma digna de viver. Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada, no teu coração, ao pobre sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante. São palavras que nos são ditas pelo Espírito Santo. Sem dúvida, esta forma de vida é custosa e supõe sacrifício. Leva-nos a não pensarmos apenas em nós mesmos, mas a levarmos a nossa atenção aos problemas e necessidades alheias. É neste bem de todos, porém, que toda a pessoa humana encontra a plenitude da sua felicidade, a realização da sua vocação. Por exemplo: O que acontece numa família onde o pai ou a mãe pretendem viver só para si mesmos? Ali, chega a tornar-se impossível uma vida verdadeiramente humana. Esta situação, salvaguardadas as devidas proporções, vale para qualquer situação em que cada um se encontre. Por isso, o amor ao próximo deve ser uma condição do nosso viver diário. É uma experiência vivida pela nossa Casa do Gaiato de Benguela, dum modo especial, no momento presente. Um período muito difícil está a ser vivido pela nossa querida Angola. O seu povo, sobretudo os mais pobres, vive com muitas carências, a nível alimentar e da saúde. Diariamente batem à nossa porta a pedir ajuda. Abrimos-lhes sempre o nosso coração, na medida das nossas capacidades.

Ao passar por alguns pontos da nossa cidade de Benguela, onde há restaurantes, vejo, em alguns dias da semana, uma quantidade grande de pobres, de ambos os sexos. São mais velhos e estão sentados, junto das portas de entrada, à espera de ser atendidos. É um gesto cheio de significado. Os estabelecimentos alimentares reservam também, deste modo, uma porção de comida para matar a fome ao povo necessitado. Um desses restaurantes, o ESCONDIDINHO, é propriedade do Gabriel, um dos filhos muito queridos da nossa Casa do Gaiato de Benguela. Foi recebido, ainda muito pequeno. Cresceu e formou-se, até que teve a iniciativa de criar este centro muito importante da sua actividade. Tem outros. Continua com o seu amor de filho para com esta Mãe que o criou e ajudou a ser um homem digno da nossa sociedade. Fico feliz, quando vejo o grupo numeroso de pobres que são acolhidos e recebem a alimentação de que necessitam, para mais algum tempo de vida.

Os pedidos para o acolhimento de mais filhos abandonados, em nossa Casa do Gaiato de Benguela, continuam. Ainda não temos possibilidades de os receber. O emprego para os filhos que estão na idade de saírem, para viverem a sua autonomia, fora da Casa do Gaiato, continua muito difícil. Este é um dos grandes problemas por que estamos a passar. Vamos continuar a sofrer, com muita esperança. Sem dúvida, o amor e o carinho para com estes nossos filhos, em especial os mais pequenos, da parte das pessoas que nos conhecem, continuam muito vivos. Há dias, levamos o Eduane, de 6 anos de idade, ao Banco de urgência do Hospital de Benguela, com um braço partido, já ao fim do dia. Perguntaram o nome dos pais. Foi acolhido, em nossa Casa, com um papel de identificação, sem o nome dos pais. Era um filho abandonado na rua. Foi acolhido no Abrigo dos Pequeninos e transferido para a nossa Casa do Gaiato. Tratado com todo o carinho, vai ser acompanhado com muito amor, até à cura total. Estamos a celebrar, nesta data, o Dia do Pai. Vamos procurar viver com um coração de verdadeiros pais, cujo amor acolha todos os filhos, mas, dum modo especial, aqueles que foram abandonados. A nossa Casa do Gaiato de Benguela nasceu para ser a Casa de Família dos filhos sem família. A sua subsistência depende do amor e generosidade do coração de cada um e cada uma de vós. Procurai este caminho da felicidade, capaz de encher as vossas vidas. Enquanto tiverdes alguns bens de reserva, não os guardeis somente para vós. Partilhai-os com estes filhos. Ficam à espera. Recebei um beijinho dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela.

Padre Manuel António