BENGUELA
Vamos para frente!
Reconhecer aos pobres o direito de ter o pão de cada dia é comprometer-se, até ao final, com as exigências do amor. Não se pode fechar o coração. Devemos sentir-nos verdadeiramente irmãos de todos os homens. Os mais pobres, porém, encontrem uma disponibilidade absoluta em nossos corações. É próprio do cristão, em especial, estar a favor dos pobres de sempre. Porém, não com meras declarações de princípios que nada solucionam, mas de verdade e com obras. Não se trata duma maneira teórica de reflectir. É o caminho certo para uma vida humana autêntica, realizada. Vamos, pois, ter esta verdade muito viva na consciência de cada um de nós. Não nos faltarão oportunidades, em nosso viver diário, de realizar este projecto de vida normal admirável. Quanta alegria, paz, encherão o nosso viver diário, se estivermos de coração sempre aberto ao pobre que nos bate à porta, com muita frequência. Coragem! Vamos para a frente!
Hoje é feriado, dia primeiro de Maio. Depois do pequeno-almoço, como é habitual, os filhos querem ir para a praia. O tempo de Verão, em Angola, está a terminar. Hoje, porém, está um dia bonito, com muito calor. Deste modo, a alegria é a nota dominante. Estes momentos, participados pelos filhos normais das famílias, mostram aos nossos rapazes que também são tratados como quaisquer filhos. O comportamento que a nossa querida Casa do Gaiato tem para com eles, é o da mãe de família dos filhos sem família ou tendo-a, é como se não a tivessem. Deste modo, a sociedade é beneficiária da presença destes filhos que, doutro modo, seria muito prejudicada. A carrinha partiu para a praia, completamente cheia. O condutor foi o nosso querido Tchikambi, o motorista grande colaborador da Casa que o criou, até ao momento em que está a viver na sua casa de família. A sua autonomia não significa independência, afastamento, mas a forma de vida a que chegam estes filhos. Quem nos dera se abrissem mais portas para a autonomia dum grupo de rapazes que estão, neste momento, a ocupar o lugar dos filhos abandonados que batem à porta da Casa do Gaiato para serem acolhidos. Há falta de empregos na sociedade que lhes garantam uma vida digna. Por isso, não podem ser mandados para a rua. Temos que aguardar uma melhor oportunidade. Esta é, sem dúvida, uma das grandes ajudas a prestar à Casa do Gaiato por quem está em condições de o fazer.
Há dias, como é habitual, participei numa reunião do Grupo Comunitário do Bairro de Nossa Senhora da Graça, vizinho da nossa Casa do Gaiato. Os Leigos para o Desenvolvimento, oriundos de Portugal, foram e ainda são os grandes animadores de Grupo. O objectivo da sua acção é a descoberta dos grandes problemas sociais que afligem o Bairro e a busca da solução para os mesmos. É verdadeiramente eficaz o processo que está a ser seguido. São os próprios membros do Bairro que constituem o grupo e descobrem os problemas e buscam a solução para os mesmos. É, sem dúvida, um método verdadeiramente eficaz. Não são apenas os agentes de fora que actuam. Pelo contrário, os membros mais sensíveis e dispostos a trabalhar na solução dos respectivos problemas são parte integrante do próprio Bairro. Deste modo, estamos na presença duma Obra verdadeiramente activa: Obra do Bairro, para o Bairro e pelo Bairro. Na última reunião foram apresentados alguns problemas e as respectivas soluções. Um deles foi o problema da gravidez precoce, com as respectivas consequências pessoais e sociais. Graças aos esforços e interesse manifestado pelo Centro mais responsável, este problema está em vias duma situação melhor. É, sem dúvida, muito importante o fruto do trabalho efectuado. Outro problema é consequência do desabamento de muitas moradias, devido às chuvas torrenciais, fortes que aconteceram, há pouco tempo. Os membros do grupo sentiram-se verdadeiramente responsáveis e vão fazer tudo o que for possível para aliviar os irmãos que estão a sofrer.
O ano lectivo continua a fazer o seu caminho normal. Como acontece com os filhos comuns, nem todos têm o mesmo aproveitamento, em parte por culpa própria. Todos os dias, na hora do nosso encontro comunitário, ao fim do dia, faz-se uma recomendação insistente a todos os filhos para que aproveitem bem o tempo dos trabalhos escolares.
Padre Manuel António