BENGUELA

Festa da Família

A cidade de Benguela está, neste momento, a celebrar os 400 anos da sua vida. É, sem dúvida, um acontecimento histórico, vivido com a participação vibrante do povo e dalgumas organizações. A Unitel, um organismo telecomunicativo, por exemplo, marcou para esta data a festa da Família, com a participação de muitos pais e filhos, com um numeroso número de crianças. A Família é, sem dúvida, o valor humano que deve ocupar o primeiro lugar na sociedade. É o seu coração. Infelizmente, é afectado por uma crise muito grave. Uma multidão de crianças nascem e vivem fora do seu ambiente natural que é a família. Encontro nas ruas, com muita frequência, mulheres jovens com os seus filhos ao colo e levados pela mão. Pergunto-lhes, com muita naturalidade, se os pais estão a viver com os filhos e com as mães. A resposta é negativa, normalmente. Os pais fugiram! É uma situação muito dolorosa! Aqueles filhos estão sujeitos ao abandono, mais cedo ou mais tarde. À medida que vão crescendo, os problemas no comportamento, nas despesas, levam estas crianças ao abandono. A nossa Casa do Gaiato de Benguela é a Casa de Família dos filhos que vieram destas situações. É a Casa de Família dos filhos sem família ou tendo-a é como se não a tivessem. Por isso, a Família é um valor humano, social, a merecer toda a atenção e carinho. Esta reflexão vem a propósito da Festa da Família, marcada para esta data pela Unitel. Quase todos os filhos da nossa Casa do Gaiato foram à Festa, com o respectivo convite. Oxalá este tipo de celebração, muito popular, sensibilize os jovens, homens e mulheres, para o respeito por este valor humano e social que é a Família.

A população, em geral, da Cidade de Benguela acolheu com muito carinho a nossa chegada, há cerca de 54 anos, para a Fundação da Casa do Gaiato. Recordo, a propósito da celebração festiva dos 400 anos, a participação activa do elevado número de portugueses, com mais capacidade financeira, na ajuda para a construção das várias residências que formam o conjunto da nova Aldeia. Doutra forma não seria possível levar para a frente, em poucos anos, este projecto, sonhado por Pai Américo. Toda a nossa querida Benguela esperava a sua realização. Ao longo dos anos, mesmo nos momentos mais difíceis, como foram os tempos das lutas pela Independência e fratricidas, o respeito e o amor pela nossa Casa do Gaiato de Benguela estiveram sempre vivos. Associamo-nos, pois, com alegria e muita gratidão à vivência dos 400 anos que está a ser celebrada. A prova mais significativa desta experiência está no acolhimento e na Porta Aberta, dentro das possibilidades, para os filhos queridos, mas abandonados.

É frequente a pergunta que muitas pessoas nos fazem: «donde chegam os meios financeiros da Casa do Gaiato de Benguela para a sua vida?» A resposta está nas ajudas que os benfeitores estão a dar. Não há outra fonte mais segura, onde se possa apoiar a confiança e a esperança que animam a nossa vida. É o amor dos que nos ajudam que nos leva a amar com todo o custo, amar com obras, amar até dar a vida por estes filhos e pelos mais necessitados que nos batem à porta. Há dias, em hora de grande aflição, chega-nos um telefonema da grande amiga da Casa do Gaiato de Benguela, a comunicar-nos um depósito no banco duma quantia admirável. É um coração a lutar por um mundo mais justo. Que cada um de nós pergunte ao seu coração o que pode fazer para ajudar os mais necessitados. Despedimo-nos com um beijinho dos filhos mais pequeninos da Casa do Gaiato de Benguela para a grande amiga D. Leonor e para todos e cada um dos que nos dão a sua ajuda.

Padre Manuel António