BENGUELA - VINDE VER!
Trabalho
A nossa acção educativa tem como missão preparar o homem para o exercício de alguma profissão. Cada rapaz, em nossa Casa, tem uma tarefa específica, através da qual poderá afirmar os seus talentos: potencialidades, aptidões, interesses e preferências. Quando completa dezasseis anos de idade é solicitado a tomar uma decisão, optando por uma área de especialização. Entra para as oficinas-escolas. Ali prepara com dedicação e esmero a sua actuação no futuro. É um momento de treino no campo laboral antes da partida oficial do futebol que há-de acontecer quando for integrado num estabelecimento debaixo das ordens do patrão ou também por conta própria, se for o caso. É o pedaço de bolo repartido entre todos. É a melhor herança que um pai pode deixar aos seus filhos. O amor ao trabalho, como caminho de resolução de inúmeras preocupações da vida. Os psicólogos diriam; disto depende em grande parte a qualidade da saúde mental das pessoas, e consequentemente a elevação da dignidade do homem e afirmação de uma boa vida.
O trabalho do campo tem sido dos mais bem-sucedidos. As oficinas e o cuidado dos animais também têm tido muita concorrência entre os candidatos. Procuramos o maior alinhamento na sequência dos estudos, garantindo que a teoria seja concretizada na prática através da frequência numa das secções das nossas oficinas. O «Bongue» é o responsável do grupo da agricultura, o «Cavela» é o novo responsável pela vacaria, o «Manuel António» continua como chefe das oficinas. São todos de Casa. A prata da casa é mais reluzente, meus senhores. Os visitantes já os conhecem e acham ser muita responsabilidade para tão novos rapazes. Sim concordo. Mas, é apenas o treino. Se eles soubessem as exigências que a sociedade impõe para os integrar no mundo do trabalho então teriam maior compreensão do treino. O jogo será amanhã. O árbitro não faz parte hoje da nossa equipa. Somos treinadores no terreno educativo.
Chegaram as sementes que tínhamos solicitado em Portugal. Já foram lançadas na terra. Tomate, salsa, cebola, beterraba, couve, abóbora cenoura. Os viveiros estão repletos para garantir uma boa colheita dentro de quatro meses. A batata doce vai ocupar três ou quatro hectares este ano. Não temos semente de batata rena. No Huambo o saco custa 70 mil cuanzas. Como ir buscar? Onde está o dinheiro para dois ou três sacos? A Providência nunca nos abandona. Esperamos, o agricultor também espera paciente a hora da colheita.
A conclusão é de Pai Américo «todos os pequeninos habitantes que moram debaixo das nossas telhas, são enfermos da alma. Foi por uma maneira muito simples que eles contraíram estes males; andavam sós pelos caminhos.
Da mesma sorte aqui hão-de topar a cura: andar bem acompanhados. As ovelhas, as vacas, as flores, a beleza do campo e das matas, as estrelas no fundo negro dos céus são as companhias que os hão-de salvar. Estes elementos da natureza, usados e saboreados pelo pequenino das ruas, valem mais do que todos os tratados de pedagogia».
Padre Quim