BENGUELA - VINDE VER!
O grito da Esperança
Vivemos num contexto de afirmação das grandes controvérsias sociais. Os discursos proferidos rolam em estrada inversa em relação à realidade dos acontecimentos que afligem o quotidiano. Qual trânsito perigoso, seguindo em marcha veloz na contra-mão. As redes sociais, e outros órgãos ao serviço das notícias nacionais e internacionais dão-nos conta em apenas um "clique" da situação de aflição de milhares de pessoas vulneráveis. Crianças e jovens em estado de risco permanente. Despojados de tudo. Nem pão, nem dignidade. Tudo bloqueado. O custo de vida traduz tudo! O poder de compra baixou consideravelmente. O mercado e o bolso do pacato cidadão funcionam agora como o intermitente do automóvel que ainda circula, ora acende, ora pisca a vermelho, e rapidamente se apaga.
Houve disparo de espingarda nas ruas, jovens resolutos enfrentando a luta pela sobrevivência. Qual rei Leão rugindo feroz procurando a quem devorar. A resistência vem da fé. Tivemos de comprar o pão no dia anterior às pressas com o medo a imperar. O preço do pão já ronda aos 55 cuanzas. Já custou em tempos 10 cuanzas. Era o tempo das vacas gordas.
A nossa comunidade sente os gemidos dos vizinhos, que sem esperança, resta-lhes apenas o grito de socorro. Jovens e velhos, vêm ter à nossa Casa. Tudo o que desejam é matar a fome, antes que esta os mate de maneira agressiva. O que produzimos nos campos e o que nos chega das ofertas dos nossos benfeitores e amigos são compartilhados com os mais pobres dos pobres.
Os nossos rapazes maiores continuam à espera de uma vaga de trabalho nas empresas onde já deixaram alguns CV (Curriculum Vitae). Enquanto aguardam temos trabalhos cá na fazenda. O cuidado dos animais e o cultivo das terras. Foram encontrados alguns voluntários do grupo dos rapazes que agora se dedicam ao cuidado das aves. Patos e galinhas poedeiras cerca de 2.000 pintos. Para dar continuidade ao projecto das aves faz-nos falta uma chocadeira para a renovação da espécie e garantir assim maior povoamento das naves do nosso galinheiro. As poucas que experimentamos deixá-las chocar tiveram pouco cuidado com os filhotes. A ração nunca chega. São 30 kilos de farelo ao dia. O saco de ração para as poedeiras custa cerca de 11 mil cuanzas e o protocolo para a sua obtenção são outras contas do rosário diário.
Já vários rapazes fizeram a defesa de finalistas do Curso Médio. Ficam a aguardar por uma oportunidade de trabalho nas Instituições públicas ou privadas, ou até mesmo por alguma vaga no ensino superior. Que Deus nos conceda a graça de os orientar sempre pelos caminhos que darão garantia de dias alegres e felizes pensando na realização pessoal de cada um dos nossos jovens. Caminhamos juntos e juntos sonhamos para tornar sonhos em realidade. O grito continua, mas agora é o de esperança. A conclusão é de Pai Américo «Desejamos dar à Casas do Gaiato a feição de Casa deles, para eles, governada por eles. É uma concepção de Assistência inteiramente revolucionária que foge à rotinice clássica dos agentes de vigilância nas congéneres Obras sociais. O miúdo assim à-vontade, no seu grande elemento, mostra-se e revela-se tal qual é. Não queremos diminuir a sua personalidade, mas sim valorizar.Estamos formando dentro da pequenina comunidade de hoje, os dirigentes de amanhã.»
Padre Quim