BENGUELA - VINDE VER!

60 Anos de história de Amor

Inauguração da Casa do Gaiato de Benguela «5 de Janeiro de 1964, Festa do Santíssimo Nome de Jesus. Fez anos a Obra da Rua. São já 24 anos de vida pujante e fecunda. Neste cantinho, também houve festa de família. Eram os anos da Mãe. E este ano havia motivo especial de alegria - dois novos membros viram a luz do dia. Os filhos reuniram-se à roda do Altar. Festa muito íntima, sem barulho, sem foguetes, sem iguarias especiosas. Nós, um casal muito amigo e lugar para outro; os Pobres que vivem a dois passos e os nossos trabalhadores do campo. Pai Américo presidia. Foi assim que demos os primeiros passos. Foi assim a festa da inauguração da Casa do Gaiato de Benguela.» (in Obra da Rua).

Foi assim em Benguela, no início da caminhada que chegou até este momento de história. Nesta caminhada lembramos e agradecemos a generosidade de todos os padres da Obra da Rua. Aqueles que desde a primeira hora tornaram real o sonho de Pai Américo de levar a Obra da Rua para as Ruas de África. Aos nossos caríssimos padres Telmo e Padre Manuel António, de feliz memória, vai a nossa homenagem e profundo reconhecimento pela história de amor que cravaram nas vidas de centenas de rapazes e suas famílias hoje constituídas. Aos dois grupos de rapazes que vieram da casa do Gaiato de Paço de Sousa para ajudar a implementar a Obra da Rua em Angola, que Deus continue a abençoar a todos. Aos benfeitores que ainda hoje continuam a prestar a sua ajuda para manter de pé este projecto de vida das Casas do Gaiato em Angola e em Portugal.

Hoje, 3 de Janeiro de 2024, a comunidade da Casa do Gaiato de Benguela volta a reunir-se à volta do Altar para celebrar os 60 anos de testemunho de amor para com os pobres abandonados, sem família e desprezados pela sociedade. A celebração da eucaristia foi presidida pelo bispo da Diocese de Benguela, Dom António Francisco Jaca, ainda em clima de Festa de Natal, quando a liturgia indicava a celebração da Festa do Santíssimo Nome de Jesus. No final da Missa tocou o sino para o jantar em família. O responsável da vacaria mandou abater um porco, do campo 60 quilos de batata, o despenseiro preparou as sobremesas e uma gasosa para cada um. Muita alegria à mistura, muito barulho no refeitório. É festa!

Em Malanje também houve festa há 60 anos, perto da lagoa e do cruzeiro. «Foi, sim, no Dia do Santíssimo Nome de Jesus de 1964 — único Nome que cura e cicatriza as feridas da alma — que mais uma vez juntámos as mãos e as erguemos ao Céu num Te Deum Laudamus perante a inauguração solene e bênção da primeira pedra. Como sempre, correu tudo com muita simplicidade. E a prata da casa é que serviu. Depois do senhor Bispo ter celebrado o Santo Sacrifício num altar feito à última hora e muito rústico, seguiu-se a bênção da primeira pedra, a qual é a primeira do cruzeiro da futura Aldeia. Tem sido pela Cruz que temos começado todas as nossa Casas, a fundar de raiz. Foi com a Cruz que os nossos antepassados marcaram estas terras e, por conseguinte, será pela mesma Cruz que esta nossa Angola há-de ser conquistada para o Amor. O senhor Governador do Distrito também não faltou, em companhia de sua esposa, assim como alguns Amigos da primeira hora. E não podemos esquecer a presença dos cristãos das cubatas mais próximas. Com a sua presença e cantares em quimbundo, deram mais realce aos actos. E desde então estas centenas de pessoas têm sido pontuais nas nossas Missas dominicais, no fim das quais lhes é ensinada a Catequese. Pelo meio-dia foi servido um almoço feito à nossa moda, onde o sr. Padre Carlos e a Emília se destacaram como bons cozinheiros. Esta festa foi tão simples e familiar que até as tão faladas «chaves do cemitério» - uma chave muito grande e ferrugenta que veio de Paço de Sousa, não sei com quem - foram entregues ao sr. Padre Carlos perante a boa disposição da assistência. Isto é a Casa do Gaiato! Quem viu e quem vê a quinta de Culamoxito já encontra nela grande diferença. E daqui a mais algum tempo será ainda mais bela quando, perante aquela natureza fresca e sadia, começarem a desabrochar as plantas, juntamente com o cantar dos futuros gaiatos angolanos.» (in Obra da Rua).

A conclusão é de Pai Américo: Na actuação do Fundador da Obra da Rua está um grande objectivo: fazer de cada rapaz da rua um homem útil à sociedade, ganhando o pão com o suor do seu rosto e cultivando também os grandes valores morais. E este objectivo é procurado precisamente por meio de trabalho de cada rapaz. O trabalho é formador de personalidades. Diz o Padre Américo: «Nós somos trabalhadores de primeira linha; trabalhamos mais de oito horas por dia. O nosso sistema exclui todo e qualquer pessoal auxiliar. Os orientadores são em muito pequeno número e a sua acção é agachada. De forma que esta primeira quinta será o local do primeiro desdobramento da Casa do Gaiato. A seu tempo irão obreiros de Paço de Sousa, como vieram para cá os de Miranda do Corvo, fundar. Eles hão-de trabalhar, dirigir, zelar aquilo que é deles, para eles, por eles. Enquanto o Governo não nos proporcionar meios de vida nas colónias, como se espera que ele o faça em tempo oportuno, estas e outras possíveis quintas servem o nosso propósito de ocupar, com interesse próprio, o ex-vadio da rua. É necessário deitar por terra os velhos métodos da Assistência, aonde não falta quem vá dirigir os rendimentos e interesses das Casas — nem sempre a bem e para bem dos dirigidos. Afigura-se-me que o rendimento social, é formar e escolher, de entre os que necessitam de nós, os futuros mestres de vida. Há-de ser a massa. Virá tempo, cuido eu, em que me hão-de pedir encarecidamente para aceitar quintas para a Obra e pode muito acontecer que eu as recuse. Se não tiver rapazes para trabalhos, e enquanto os não tiver, não as aceito. A nossa moeda forte, o nosso estímulo de vida, a nossa defesa da miséria, é justamente o trabalho e este das nossas mãos.»

Padre Quim