BENGUELA - VINDE VER!
Colheita
O arranque do ano lectivo coincide com a altura em que os frutos do campo apresentam-se maduros para a ser apanhados. Em meados de Abril (termo das chuvas), começa a preparação dos campos e em Maio as sementeiras para os produtos da época de cacimbo, (estação fria). A nossa carrinha veio do campo carregada de batata-doce. O milho apanhado seco para a farinha (fuba), depois da debulha, é levado ao nosso velho moinho, e deste para a cozinha onde é confeccionado. No pequeno-almoço, papas de milho e no almoço pirão (fungi).
É mais delicioso saborear os frutos do nosso trabalho. É mais justo e digno! Colher o que foi plantado é um compromisso estabelecido entre o passado, presente e o futuro. O agricultor é um mestre na arte de esperar. Esta esperança torna belo o trabalho do homem.
Na escola é ainda tempo de sementeira. Muito há ainda por se fazer em matéria de aprendizagem escolar. Os mais pequeninos estão muito animados. Vão crescendo, subir, progredir, ser gente! Cá vamos nós também, com a missão de amparar, aconselhar, orientar, educar. Tudo obra do coração, numa única e grandiosa expressão = a amar. Tudo resumido! Educar é amar.
Da janela do escritório no primeiro andar da Casa Mãe, deslumbra-se o espectáculo protagonizado diariamente pelos alunos que chegam à nossa escola de manhã e saem ao meio dia, e da parte da tarde outro grande grupo. São ao total duas mil e duzentas crianças e adolescentes que têm acesso ao sistema de ensino. Há lugar dentro das salas de aula para poucos e um grande número só mesmo debaixo das árvores é que encontram lugar para estudar. Temos oito salas construídas para os rapazes o que era mais do que suficiente, com a abertura às comunidades vizinhas houve uma grande corrida para conseguir um lugar na nossa escola. A primeira parte daquilo que hoje é complexo Escolar da Casa do Gaiato de Benguela foi construída no conjunto das instalações da nossa Aldeia. Contava com três salas de aulas, casa de banho, e gabinete da direcção. Passados quase trinta anos houve necessidade de aumentar três novas salas. Nesta altura foi construído o segundo bloco com uma sala para os professores, casas de banho, e três salas de aulas. Neste momento estamos a terminar a construção de mais dez salas de aulas, um anfiteatro, casas de banho. Uma despensa para guardar a merenda escolar e um alpendre para a cozinhar e servir as papas no intervalo maior. Muitas destas crianças vêm cheias de fome das suas casas. A merenda é um factor motivacional, mas no nosso contexto é uma ajuda para matar a fome àquelas crianças que ainda não tiveram a primeira refeição do dia. Quem dera pudéssemos contar com gestos solidários para que não venha a faltar pão, livros e muito amor para com os mais pequeninos. A nossa porta continua aberta à espera da entrada de "bons samaritanos". De homens e mulheres, que ao passar pelo nosso caminho nos façam recordar as palavras e os gestos do samaritano: "aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas derramando nelas vinho e azeite. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal levou para uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: cuide dele. Quando eu voltar lhe pagarei todas as despesas. O texto conclui com as palavras de Jesus. Vá e faça o mesmo". (Lc: 25-37).
A conclusão é de Pai Américo: «Como a tendência da Obra é que sejam os próprios rapazes a conduzi-la, tem-se tido o cuidado de aproveitar os mais inteligentes de entre eles e dar-lhes um curso superior. Não é que queiramos fazer doutores, mas acreditamos absolutamente na competência e na supremacia do espírito; oferecemos mesmo todas as vantagens às vocações intelectuais que a Rua nos apresenta e procuramos equilibrar as suas dificuldades.»
Padre Quim