CALVÁRIO
VOZ AOS DOENTES — Prestar SERviço voluntário aos doentes no Calvário de Beire e aos Gaiatos desta Casa, é um desafio à humanidade que existe em cada um de nós, à paciência, resiliência e compaixão pelo direito a ser diferente, independentemente da sua condição física. É ter a capacidade de ver Jesus Cristo em cada um dos doentes e residentes, como parte do TODO, e não à parte.
Sempre existiram voluntários, que eu me lembre, que em trânsito constante (ou não), por cá passaram e ainda passam. Trazem-se uns aos outros, porque juntos na mesma causa do bem-fazer, para bem-estar e bem-viver.
Sobre estes, conheci e conheço alguns que possuem como denominador comum, o amor pelos desafortunados e a sua protecção, nesta Obra da Rua criada por Pai Américo.
Sempre que podia, depois da escola e quando podia dispensar algum tempo, aparecia para deitar a mão. Podia ser na cozinha, na lavandaria ou nos banhos. Era onde fosse urgente o apoio a prestar. Quando eu não era precisa em nenhum destes locais, ia ler para os doentes acamados e dar o consolo que cada um, à sua maneira, precisasse.
Os tempos mudaram e foi-me proposto pelo Padre Fernando, que aqui participasse, utilizando as ferramentas que fui adquirindo como professora, ao longo dos anos. Aceitei sempre com a certeza de que os doentes iriam revelar o que queriam e podiam aprender/fazer.
Percebi o enorme impacto e alegria que a música lhes trazia e comecei a tocar e a levar canções do nosso cancioneiro. Acrescentei os instrumentos musicais e neste tempo cultural, vou-lhes lendo os sorrisos pintados nas faces, as batidas tão certinhas da Luisinha e do Zé; as palavras que se soltam pela boca do sr. Neca e da Tininha, enquanto cantam e vibram em expressão de alegria, contagiando os restantes parceiros, pintores (em outras actividades criativas) de registos gráficos.
Estamos num espaço muito pequeno, onde ainda não cabem todos, mas pelo menos, a alegria e a música, sinais de vida, chegam a quem não consegue juntar-se. Melhores tempos e espaços virão. Sabemos, temos esperança.
Entretanto, foram-se juntando a Glória, a Sofia, a Célia e a Cecília. Nem todas podem vir sempre, mas quase sempre, contamos umas com as outras e vamo-nos distribuindo pelas tarefas criativas e geradoras de vida saudável.
Convidamos a fisioterapeuta, Rute, a juntar-se às voluntárias e propusemos o início de um novo projecto a implementar no Calvário e Casa do Gaiato de Beire — Voluntários em Movimento, que foi acolhido e apoiado por parte do Padre Alfredo e passamos a proporcionar fisioterapia aos doentes, nas águas quentes e sulfurosas das termas de S. Vicente, à sexta-feira. Foi uma alegria para todos. A rotina nova traz aumento da mobilidade de que tanto precisam, as saídas ao exterior e o convívio geram motivação e boa disposição, combatendo, desta forma, os habituais estados depressivos próprios desta época.
A Adelaide diz que: — Fui ao Brasil, quando lhe calha a vez; o Paulo Sérgio, todas as quartas-feiras pergunta a sorrir: — Quando é a minha vez? A Isabel diz que até parece que foi à praia de Azurara e que queria ir mais vezes; a Irmã Laíde parece um "sino"; a Deolinda quer usar os fatos de banho que lhe foram oferecidos e só sorri de contentamento, quando entra na água; o Nana, que tão devagar se movia, é vê-lo a acelerar o passo, a sorrir; o sr. Costa e o Zé, ao princípio temiam a água mas pouco a pouco ultrapassaram os medos e vão felizes…
O projecto tem pernas para andar e irá ter novidades, mais adiante. Tudo para o bem e melhoria de qualidade de vida dos doentes.
As voluntárias que para já conseguem um horário para os acompanhar com a Rute, estão disponíveis e comprometidas com o propósito e relevam, também, todos os esforços e trabalho de bastidores, que é necessário para tamanha logística.
Trabalhar e articular em grupo não é fácil, mas é possível porque de uma coisa tenho a certeza: os doentes são a peça mais importante deste motor e todos quantos estão ao SERviço têm em comum a linguagem do Amor.
Uma voluntária M.I.