CALVÁRIO

¿Es posible que las nubes puedan, después de todo, pertenecer a un grupo o a otro de la tormenta? ¿Si son portadoras de electricidad positiva o negativa? Es muy cierto que los hombres no son nubes. En tanto que individuo, uno se hace parte de un todo que constituye la humanidad. En esta humanidad hay partidos. ¿Hasta qué punto es la propia voluntad y hasta qué punto la fatalidad de las circunstancias la que hace que se pertenezca a uno u otro de los partidos opuestos?

Vicent van Gog, Cartas a Theo. Alianza editorial. p.173


Despedimo-nos do verão com águas fortes, mas necessárias. Noutros pontos do globo com destruição e morte. O outono entrou em palco e a natureza vai-nos acenando com as folhas multicolores dos carvalhos, dos liquidambares, das tílias e das videiras. Inquilinas cá de casa e suporte para quem respira. Um espectáculo que devemos contemplar. Virá o tempo de as podar.

É uma paleta de cores que embeleza o Calvário: o amarelo, o vermelho e o azul sobre elas. Assim acontece em cada ano e em cada década. Já lá vão sete. Quantas mais?

Cada doente, e tantas centenas de doentes que por cá passaram, e muitos aqui repousam no cemitério da casa, amaram esta estação.

Precisamos deste movimento de morrer, como as folhas caídas, para aprender a viver. Organizar-nos-emos para as recolher, limpando os caminhos e desentupindo os canais de águas. A sabedoria espiritual do Calvário está neste aproximar da natureza humana à natureza vegetal e animal. Um verdadeiro cântico de louvor, onde as criaturas se cruzam e dialogam. Há uma linguagem que só se aprende vivendo em contacto natural e humano com os descendentes do Éden. A natureza imita-se até atingirmos a graça. Com a encarnação de Jesus já não há lugar para expulsão do jardim, mas para sermos os seus jardineiros. Maria Madalena, confundida, pensava falar com o jardineiro, quando foi naquela manhã de domingo ao sepulcro. Mas falava com o Mestre que lhe falava a ela. Não me detenhas! Ela obedeceu! Por amor.

É esta palavra que não devemos calar: não deter o amor de Deus por cada um de nós, primeiramente pelos doentes e frágeis. Jesus quer estar connosco e sem nós continuará crucificado numa cama de hospital, numa cela da prisão, num quarto de uma residência para anciãos. O que cura e salva é este encontro no jardim dos que ressuscitam com o Filho de Deus.

Neste lugar teológico de fragilidade e de redenção tem sentido contemplar o que aqui foi plantado e cultivado por tantos ao longo dos anos, para não esquecer os esquecidos nem atraiçoar esta lição. De resto, o cuidado da natureza vegetal e animal, como recorda o Papa Francisco na Laudato Si, é um princípio da nova economia humana e salvífica. De outro modo pereceremos todos. Não basta querer conquistar novos mundo se destruímos a terra para nós criada com gestos de amor, de imagem e semelhança à sua bondade e beleza.

Padre José Alfredo