CALVÁRIO

O ano que termina fica marcado por algumas cenas de violência e de morte. A começar pela guerra na Ucrânia e na Rússia, particularmente o massacre de Bucha.

Também, e uma vez mais, um grande número de mortes por violência doméstica em Portugal, mulheres e crianças, muitas vezes usadas como arma de arremesso entre adultos e instituições.

Finalmente, a morte do Papa emérito Bento XVI, a quem coube fazer a transição da Igreja do longo século XX para o desconhecido século XXI. Do silêncio do pecado sobre crianças para a penitência pública e a reconciliação humilde e misericordiosa.

O ano novo que nos visita terá de ser vivido com auspícios de paz, quer universal entre estados e nações, entre culturas e filosofias, mas também particularmente nas nossas famílias e na vida eclesial. Este ano terá lugar o encontro sinodal que vem sendo preparado há meses e de forma ininterrupta. A paz na sua acepção mais evangélica quer significar a presença do Espírito Santo entre as pessoas de fé e as pessoas de boa vontade, até que o Eterno seja tudo e em todos.

Nos próximos meses teremos de contrapor uma visão cristã ainda mais humanizadora aos cuidados em fim de vida, face à nova lei que regulamentará a morte assistida. A vulnerabilidade do corpo humano é o sinal mais claro e evidente da sua transcendência. Assistir aos sofrimentos dos que padecem não é dizer um adeus apressado, é proclamar um presente, como dizíamos quando, na escola, à voz do mestre, se pronunciava o nosso nome.

Preparamo-nos, com entusiasmo, para em agosto deste ano receber em Portugal o Papa Francisco e os jovens que acederem ao seu convite para estarem com ele e com Cristo Vivo nas jornadas mundiais da juventude que este ano se realizam em Lisboa.

Para que este ano seja realmente novo precisamos de nestes três âmbitos trabalhar as virtudes cardeais, tão caras e presentes ao magistério de Bento XVI.

A paz realiza-se também pela esperança, aceitando o que ainda não vemos, mas que está no nosso horizonte como promessa. A promessa é uma chave de leitura judaico-cristã na qual precisamos de insistir para não cair em ideologias perigosas e falsos facilitismos.

A vida total e para todos terá de ser exercitada na caridade, o amor cristão por excelência. Aquele dar tudo sem esperar nada em troca, que não seja a realização do bem, puro e simples. A vida ninguém a pode tirar ao seu semelhante, mas podemos oferecê-la como gesto de martírio silencioso e diário, com dignidade e para dignificação dos outros.

Um encontro cristão é sempre um acto de , um acto sacramental. Um sinal visível de uma realidade invisível e através do qual Deus se manifesta presente à história pessoal e humana. O encontro de jovens com o sucessor de Pedro é um acto apostólico e de evangelização, mas sobretudo um convite / chamamento para que muitos descubram o que Deus quer para eles, mas eles sabendo o que querem para si.

Padre José Alfredo