CALVÁRIO
Mostrei a minha obra de arte às pessoas crescidas e perguntei-lhes se o meu desenho não lhes metia medo. Elas responderam-me: «Por que é que um chapéu poderia meter medo?»
O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry, p.8. Tradução de António Oliveira e Gravuras de Ana Torrie. LETRAS & COISAS 2023.
Sem nunca ter lido O Principezinho, quando era criança já me habituara a ver e a dizer, só para mim, que debaixo das montanhas vivem dragões. Já adulto comentei isso com um amigo com quem fiz os caminhos de Santiago. Riu-se. Ainda o ouço!
Livros. É disso que quero escrever. Sobretudo os dois últimos com que nos brindou o senhor Padre Telmo na celebração dos seus 98 anos de vida.
Quando regressei de Angola, da visita às Casas do Gaiato de Malanje e Benguela, em Janeiro de 2022, logo o Luís Amaral me comentou que o Padre Telmo lhe tinha entregue um manuscrito para ele dactilografar. Assim fez com toda a dedicação e delicadeza que lhe conhecemos. Depois veio a revisão e a compaginação com o título Um retiro na montanha, de 2016, e que inspirou este último trabalho. Logo comentámos que seria bom utilizar também alguma ilustração da Ana Cardoso. E pedimos autorização. Assim foi. Mas, entretanto, juntámos ao processo os doentes do Calvário e da Casa do Gaiato de Beire e com a preciosa ajuda da Isabel Corte Real e da Cátia Freitas acabámos por ilustrar todos os episódios do sonho que fez regressar o autor ao Gerês e à memória saudosa das penedias, bem como à fala com o seu amigo sapinho, que aprendeu a responder às questões colocadas:
«Tu choras?! — É alegria! Tu falas? — De tanto pensar em ti comecei a falar.» p.10. Regressa, afinal, sem nunca ter saído de lá, como podemos concluir. Só os homens grandes podem estar em todo o lado sem se prenderem a nada! Sem nada possuírem. São livres. São LIVROS.
Apresentado no passado dia 25 de Novembro no auditório da Paróquia de Louredo — Paredes, com o acolhimento do Padre Armando Neto, sobre esta obra foi dito que era um livro de família. O Meu sonho profundo é de facto familiar. Não posso juntar nada mais a esta expressão feliz e realizadora do que deva ser o Calvário e a Casa dos Rapazes de Beire.
Aldeia dos Leprosos, segundo fruto desta colheita aniversária, teve um processo semelhante. Um certo dia deparo-me com Pai Telmo à secretária no seu quarto, pequeno, proporcionalmente pequeno à grandeza do seu inquilino. Tenho dificuldade em entrar. Encontrei-o sentado e a procurar imagens de aldeias de leprosos em revistas e jornais que vai guardando. Não tem o GOOGLE à mão… penso eu. Isso tornar-se-á uma tarefa inglória. Percebi que tinha passado à escrita as suas memórias do Dondo, aquando da sua pastoral na capelania da barragem de Cambambe, no rio Kuanza. E imediatamente soube pelo Henrique Manuel Pereira (ALFORRIA) que lhe tinha confiado os manuscritos. Rapidamente o Henrique disse que mereciam ilustração da Nucha Cardoso. E assim foi generosamente aceite e executado. Quando mostrei ainda em formato digital a obra ao Padre Telmo os seus olhos deixaram cair uma lágrima sobre o tablet, como ele mesmo havia escrito: «Olha, Fernando, ontem, ao recordar a cena do cordeirinho, chorei. Que lágrimas lindas, meu querido…» p. 11.
Os nossos leitores podem adquirir os livros através da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, como fazem com outras obras, ou pedindo para Beire (calvario@obradarua.pt; 911 835 876), caso queiram um autógrafo do autor. Cada obra tem um custo de 10 EUR, cujo resultado reverterá para a Casa do Gaiato de Malanje (podem fazer transferência directa para a conta OFICINAS CASA GAIATO (MALANJE) PT50 0010 0000 0158 2730 0016 7). Juntem algo mais para os portes dos correios!!!
Padre Alfredo