CALVÁRIO
Os dias sucedem-se inexoravelmente. O ritmo de vida no Calvário às vezes é assustador. São tantas as solicitações, tantas as urgências, tantos os cuidados com as pessoas, com os espaços, com quem nos visita para conhecer ou para apresentar alguma necessidade. Não tem alguma ajuda para que possa pagar as despesas, para comprar comida? Alguns pedidos são feitos no interior da própria capela! Já temos atendido, também no exterior. Queremos fazer tudo e dar atenção a todos e por vezes as forças esgotam-se. Sentimo-nos desfalecer e temos a tentação de repetir como Jesus: porque estou abandonado à minha sorte (cf. Marcos 15, 34)? Estaremos sós? Ou é o nosso egoísmo e o nosso desejo de sucesso que nos impulsionam para este sentimento tão contemporâneo de fazer tudo o que pareça estar ao nosso alcance e não confiar nos auxílios da razão, nos auxílios de Deus?
Contar o tempo é uma sabedoria, como diz o salmista no salmo 90, 12: ensina-nos a orientar correctamente os nossos dias, para entrarmos no pórtico da sabedoria. Viver é uma sabedoria em permanente mutação, nunca estamos preparados para cada dia. Há sempre desafios novos, novas realidades a que é preciso lançar mão. O Calvário não são as horas passadas por Cristo na Cruz. Apesar da crueldade da pena esse tempo foi apenas um instante na vida de Jesus. E ele soube viver esse momento como cada instante entre os seus discípulos. O que lhe teria feito sofrer mais: a flagelação ou os discípulos a discutirem entre si qual deles seria o maior?
Nós poderemos viver a nossa vida em tristeza profunda, tristeza de morrer perante tantas guerras e violências que a comunicação social nos faz chegar cada dia. Ou podemos viver preparando-nos para o fim. No final da oração da noite aprendermos a pedir ao Senhor uma santa morte. Que coisa significa um morrer santo? Talvez seja o pedido, ao declinar do sol, para que o dia de amanhã decorra segundo a vontade de Deus e não segundo os nossos caprichos.
Aproxima-se o dia 17 de Junho e com ele a evocação, no Coliseu do Porto-Ageas, pelas 21h00, dos 70 anos do anúncio da criação do Calvário. São todos bem-vindos. Apareçam. Tragam um amigo da Obra também. Muitos já fizerem a reserva e outros podem fazê-lo ainda. Ou apareçam mais cedo no dia para vos ser entregue um bilhete que dê entrada para esse espectáculo solidário.
A forma mais perfeita de viver é sermos agradecidos por tudo o que nos sucede, de bom e de ruim. A melhor forma de darmos graças é evocar o bem semeado por outros e que nós agora colhemos. Ainda que a colheita seja dura. Mas quem semeou a chorar permite que outros recolham a cantar (cf. Salmo 126, 5-6). O Calvário fez-se e faz-se deste duplo movimento. Em perpétuo circuito espiral. Elevação e enraizamento.
Padre José Alfredo