CALVÁRIO
Por estes dias mudámos para as novas instalações, que as longas obras no Calvário de Beire proporcionaram. Começámos a usar a cozinha e o novo refeitório e copas. Além das salas comuns. Esperamos que na edição impressa destas linhas já tenhamos mudado também para os novos quartos, todos os doentes cá de Casa. E em breve possamos receber os doentes que saíram para a realização das obras e outros que precisem de acolhimento — casa, pão e carinho!
O Verão passou e com ele as colheitas (batata e vinha), a ida à praia, os passeios e muitas e muitas visitas a Beire. É boa a azáfama, o entre e sai de quem quer cuidar cuidando-se, também pelo exercício da caridade, como já temos falado. Ainda temos o milho para colher e que possa garantir alimento aos animais que povoam e embelezam a Quinta de Beire.
De qualquer latitude deste pequeno território se avista trabalho, beleza, missão e esperança. É o Calvário como o sonharam Pai Américo e Padre Baptista.
Continuamos a celebrar diariamente a eucaristia na capela espigueiro, hórreo (diz-se em castelhano, do latim horreum — casa do grão), como nos ensinaram umas visitas amigas encantadas, com a transformação. Também ele vai requerer uma cuidada intervenção para corrigir o telhado e prever um acesso a doentes com mobilidade reduzida. Também o mobiliário litúrgico precisa de ser repensado e construído de modo adaptado às necessidades dos doentes, presença constante na eucaristia.
Temos um pequeno órgão de tubos, gentilmente cedido por uns amigos, e que sempre que aparece um organista ele saúda Jesus com as suas melodias. Vivemos uma espiritualidade simples, mas realista — encarnada, pobre, …! Podemos dizê-lo?
Com alguma frequência na liturgia eucarística usamos o prefácio comum VIII do missal romano — Cristo, o bom samaritano. Repetimos as expressões que antecedem a consagração de modo solene e verdadeiro, a verdade de quem quer ser discípulo do Senhor e servidor dos outros. Assim: Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação louvar-Vos e dar-Vos graças, em todos os momentos da nossa vida, na saúde e na doença, no sofrimento e na alegria, por Cristo, vosso servo e nosso Redentor. Na sua vida mortal, Ele passou fazendo o bem e socorrendo todos os que eram prisioneiros do mal. Ainda hoje, como bom samaritano, vem ao encontro de todos os homens, atribulados no corpo ou no espírito, e derrama sobre as suas feridas o óleo da consolação e o vinho da esperança. Por este dom da vossa graça, também a noite da dor se abre à luz pascal do vosso Filho crucificado e ressuscitado.
O que dizemos é uma contração verbal dos gestos do Calvário, sobretudo do passado, mas que no presente precisam de ser reinventados, dialogados, aceites por todos os que têm poder de decisão sobre o que fazemos. Já que os doentes aceitam Jesus e todos os seus dons, particularmente a consolação e a esperança. Há que avançar em conjunto. Algum dia faremos a oração de bênção do espaço renovado. Alguém vai dizer umas palavras, o Varito conduzirá e cruz e o Nana levará a água benta. Todos levaremos a nossa presença amorosa e agradecida pelo bem que tantos amigos nos devotam.
Padre José Alfredo