CALVÁRIO
Celebrámos a 23 de Outubro último mais um aniversário natalício do Pai Américo (1887). A ocasião serviu para, em Beire, pedirmos a bênção para as obras realizadas no edifício central que acolherá novamente os doentes. Os que estão connosco (25), alguns dos que foram retirados em 2018 (que queiram e possam regressar) e outros que nos têm sido apresentados. As obras de requalificação visaram adaptar o antigo Pavilhão (funcionava em camaratas) para o habilitar a cumprir com a legislação arquitetónica em vigor para estes equipamentos sociais. Temos um refeitório, uma cozinha, vários gabinetes técnicos (administrativos, médicos, enfermagem), duas áreas sociais, três alas de quartos com capacidade para 43 camas (individuais, duplos e triplos), quatro salas de trabalho e convívio, arrecadações, vestiários para colaboradores.
Aproveitámos a oportunidade para recordar novamente os 70 anos do início do processo de tomada da posse desta propriedade pela Obra da Rua (1954), quando o Pai Américo pediu a Quinta da Torre, e lhe foi entregue e depois devidamente registada em sede própria, para aqui instalar um hospital para acolher e cuidar doentes incuráveis e sem família. A sua morte, dois anos depois, precipitou a vinda do Padre Baptista para o norte, ele que estava nas Casas do Tojal e Setúbal. Rapidamente duplicou o projecto e criou a Casa do Gaiato e o Calvário de Beire (CCGB). Terminou as obras iniciadas pelo fundador (acrescentando a casa agrícola, armazéns e escola de ensino especial) e lançou mão a outras edificações.
Foram tempos de muito trabalho, muitas saídas por todo o país para conhecer e criar condições para acolher os doentes em Beire. Oportunidades múltiplas de recolhas de donativos, muita evangelização e partilha do carisma da Obra. A Casa do Gaiato de Beire materializou-se na parte inferior da propriedade, e foi especialmente dedicada aos rapazes que não teriam, nem têm, capacidade para uma vida autónoma (como pedagogicamente intuía Pai Américo desde os anos 40). O Calvário ganhou corpo à volta da Capela Espigueiro, parte superior da propriedade, e que serviu e serve para acolher doentes com as mais variadas enfermidades físicas e psíquicas. É um corpo com dois pulmões que temos de reanimar constantemente. Há ainda muito trabalho a levar por diante, na fidelidade ao passado e no desafio do presente, perante tão antigas e sempre novas necessidades que a pobreza nos coloca à porta. E bate com insistência.
Visitou-nos o Senhor Bispo Auxiliar da Diocese do Porto, D. Vitorino Soares, que na homilia nos falou de três conceitos muito apropriados para nós: Gratidão (pelo trabalho feito ao longo de décadas, pelo que correu bem e pelas dificuldades); Dom (ou os talentos recebidos, que não são propriedade privada, mas devem ser colocados ao serviço dos outros); Administração (a missão confiada a cada um e que se verte numa grande exigência — a quem muito foi confiado muitas contas serão pedidas [cfr. Lucas 12,39-48]).
Depois de um pequeno cortejo litúrgico, entre a capela e a estrutura de aço e vidro, fizemos a bênção junto da Carvalha Secular, procurando escutar o que ela tem para nos dizer:
Deus, Pai de misericórdia e fonte de toda a consolação, que por meio de seu Filho nos conforta com o dom do Espírito Santo, faz sentir de modo especial o seu amor e a sua bênção aos que se encontram atribulados, aos enfermos e a todos os que lhes prestam assistência.
De facto, os enfermos não só «completam na sua carne os sofrimentos de Cristo, suportados em benefício da Igreja, que é o seu Corpo», mas representam de modo particular o próprio Cristo, que afirmou estar presente na pessoa dos enfermos e considera como feito a Si mesmo tudo o que se fizer aos doentes.
Imploremos a bênção divina sobre todos os que vão estar no Calvário – doentes, cuidadores, auxiliares, médicos, enfermeiros, colaboradores, voluntários – bem como sobre este edifício destinado ao seu abrigo.
Senhor nosso Deus, cujo Filho, pelo poder do Espírito Santo, curou as nossas dores e enfermidades e, enviando os discípulos a pregar o Evangelho, lhes mandou que assistissem e curassem os doentes, abençoai-nos ? e concedei, por vossa bondade, que todos os doentes que aqui vivem apoiados pelo corpo clínico, social, espiritual e colaboradores sejam atendidos com generosa solicitude e tratados com total diligência, de modo que na sua vida terrena sejam reanimados com a saúde do corpo e do espírito e louvem para sempre a vossa misericórdia. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.
Seguiu-se uma refeição simples e familiar com os presentes a quem agradecemos a amizade, especialmente ao senhor bispo, às autoridades autárquicas, ao pároco, aos voluntários, aos vizinhos, aos colaboradores de todos os dias, aos senhores padres da Obra da Rua.
Padre José Alfredo