CALVÁRIO

Como ama quem me ama!

No passado dia 22 de Novembro faleceu a minha mãe, Ermelinda Dias Ferreira da Mota. Minha mãe e mãe dos meus outros cinco irmãos. Foi também filha, irmã, tia, esposa, sogra, avó, amiga de todos. Viveu oitenta e sete anos. Creio que viveu muitas vidas, porque se empenhou em dar a vida e acompanhar a vida de tantos que lhe bateram à porta.

Faleceu depois de um processo de demência diagnosticado há sensivelmente dez anos atrás. Na ocasião decidimos cuidar dela e do nosso pai na casa que tinham construído e melhorado ao longo dos anos. Foi o que nos pediram. Foi o que procurámos fazer o melhor que pudemos e soubemos com as ajudas da Conferência Vicentina Paroquial, do apoio médico e de enfermagem do Centro de Saúde de Paços de Ferreira. Sobretudo com a dedicação das cuidadoras informais: a nossa irmã mais velha, Rosa, e uma das nossas cunhadas, Sofia. E todos nós apoiando no quotidiano de quem progressivamente se vai debilitando: acompanhando nas consultas, velando noturnamente, gerindo os seus bens, estimulando intelectual e fisicamente.

A nossa mãe fez pouca instrução escolar, mas sempre leu muito. Via sempre com a folha paroquial ou as revistas missionárias por perto. Ao alcance do olhar! Era informada. Gostava de uma boa conversa, na rua ou quando tomava um café. Eu gostava que ela me acompanhasse ao médico, era bom e seguro vê-la a falar com eles!

Foi muitas vezes incompreendida, talvez já a demonstrar os processos demenciais. Algumas vezes não sustinha as lágrimas e nós não os podíamos estancar. Deus saberá o que terá sentido.

Ela educou-nos através do canto, foi uma Senhora alegre. Tinha personalidade. Raramente recusava um pedido que lhe fazíamos e corrigia alguma transgressão! Como fazem todas as mães, aliás. Foi uma gestora perspicaz da economia familiar. Fazia render os poucos recursos que tínhamos.

Foi uma mulher de fé simples, mas sólida, tendo como referência nossa Senhora de Fátima. A quem rezava em todas as ocasiões. Sempre me pedia, cada ano, para visitar algum Santuário Mariano. Fomos também uma ocasião a Lourdes!

Os nossos pais teriam feito sessenta e três anos de vida matrimonial no passado dia vinte e cinco de Novembro. Rezamos por eles e por nós para que a casa vazia não seja sinal de morte, mas de ressurreição, de encontro com o Senhor da Misericórdia.

Paz às suas almas e paz para o mundo de hoje, que ficou mais pobre sem eles.

Padre José Alfredo