CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

(In)gratidão

Situações mais recentes e outras mais antigas na nossa vida vicentina e noutro trabalho social cujos detalhes não interessa para aqui trazer lembram-nos aquela parte do Evangelho que relata a cura dos dez leprosos: "Não foram dez os curados" E os outros nove onde estão?" (Lc 17, 17).

Quantas vezes as pessoas a quem ajudamos se esquecem dessa ajuda? Quantas vezes a gratidão pela ajuda que damos vem da parte daqueles de quem menos esperamos? Quantas vezes nos custa não termos nenhum sinal de gratidão pela ajuda que damos a outras pessoas?

Esta deve ser, provavelmente, das lições que custa mais a aprender, mas que é preciso aprender por quem anda no trabalho social. É por isso que este trabalho não é para qualquer um, sendo poucos o que fazem como deve ser e muitos os que o fazem como não deve ser, procurando recompensas de vária ordem para si próprios.

Nas organizações e nas actividades ligadas à acção social há, naturalmente, estes dois tipos de comportamentos. Escusado será dizer que essas organizações e actividades serão melhores quanto mais pessoas e comportamentos lá houver que sejam do tipo do trabalhar sem ter como objectivo obter recompensas pessoais. Claro que, se vier a gratidão por parte daqueles a quem se ajuda, há que acolhê-la, tal como Jesus acolheu o samaritano que voltou para trás para Lhe agradecer o tê-lo curado da lepra. No entanto, se Jesus tivesse curado só quem Lhe agradecesse por isso, teria curado só um, em vez de dez leprosos.

Esta desproporção entre os curados que agradeceram e os que não agradeceram também tem o seu significado. Os que agradecem não são apenas poucos. São muito poucos.

Que Deus nos ajude a aprendermos bem esta lição e a sabermos agir e viver bem com ela.

Américo Mendes