CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

"Não sei se me enganaram, ou não, o que eu não quero é enganar ninguém."

Há umas semanas atrás uma senhora cá da terra que assegura a sua subsistência fazendo o que por aqui se chama "andar aos dias", viu-se numa aflição financeira e foi pedir 100 euros emprestados a um conhecido nosso. O marido dessa senhora anda algures pelo Porto a fazer não se sabe bem o quê, mas já há muito que abandonou mulher e filhos. Os filhos, que agora são adultos, deram muitas dores de cabeça a essa senhora e continuam a dar. Parece que a aflição financeira foi para acudir a um deles. Mãe é sempre mãe.

As dificuldades por que essa senhora tem passado já a podiam ter feito vir bater à porta da nossa Conferência Vicentina, mas não me lembro disso alguma vez ter acontecido. O que sei é que ela trabalha muito, todos os dias, por valores que são baixos, mas que lhe têm ido permitindo sobreviver. Só que nesse dia em que precisou desesperadamente dos 100 euros não os tinha.

Comprometeu-se a devolver o dinheiro num determinado dia e nesse dia não falhou. Lá apareceu com os 100 euros, mas a pessoa que lhe emprestou o dinheiro não o quis de volta. Disse-lhe para ficar com ele. Ela agradeceu e chorou. Disse que foi porque precisou muito do dinheiro e não o tinha que o pediu emprestado.

Embora este seja um caso que se passou com uma pessoa que não é acompanhada pela nossa Conferência Vicentina, mas que é cá da terra, quis dar conta dele aqui porque é um bom exemplo de alguém que, caindo numa situação de carência económica, pede ajuda quando não tem outra alternativa, mas não se aproveita oportunisticamente dessa ajuda. É séria e usa as capacidades que tem, mesmo que sejam limitadas, para levar a sua vida para a frente.

Nas pessoas que acompanhamos temos casos assim, mas também temos casos que não são assim. Quando sabemos e quando podemos, contrariamos o oportunismo, mas nem sempre sabemos tudo e, mesmo com algum oportunismo que possa haver, a real necessidade de alguma ajuda por vezes é maior do que isso tudo.

Aqui vale a máxima do Pai Américo que disse mais ou menos o seguinte quando alguém o informou de que tinha ajudado uma pessoa que realmente não precisava de ajuda: "Não sei se me enganaram, ou não. O que eu não quero é enganar ninguém."

Votos de um Bom Ano para todos os nossos leitores e respectivas famílias.

Américo Mendes