CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

A guerra, os idosos e nós, aqui

Nas reportagens que temos visto sobre a invasão da Ucrânia tem-se dado naturalmente muito atenção às pessoas refugiadas que estão a sair deste país e que são, na sua grande maioria, mulheres e crianças. Sabemos que os seus maridos, pais e irmãos ficam no país para o defender contras as tropas russas e temos visto muitos deles nessa corajosa e difícil missão.

Na Ucrânia, no entanto, não vivem só mulheres, crianças e homens. Também vivem muitos idosos. Destes temos visto relativamente poucos entre os refugiados. O que temos visto mais é alguns idosos a caminhar sobre os escombros das suas habitações que foram bombardeadas, ou a arrastar pelas ruas das suas cidades destruídas carrinhos de compras de supermercado com os poucos pertences que aí conseguem transportar. Outros idosos não os temos visto porque devem estar retidos em caves, ou no que ainda lhes restar como habitações, sem possibilidades de se deslocarem porque já não têm forças para isso.

As guerras são terríveis para todas as pessoas que as vivem, mas devem ser relativamente mais terríveis para os idosos. A doença, ou as poucas forças não lhe permitem fugir para sítio mais seguro. Por isso, muitos vão acabar por morrer, se não for pelas bombas, será pela fome, pela doença que não podem aliviar, ou pelo isolamento, sem terem por perto quem cuide deles.

Aqui não estamos em guerra. Das formas que estiverem ao nosso alcance e que nos parecerem mais adequadas, certamente temos ajudado o povo ucraniano.

Dito isto, também temos aqui os nossos idosos. Na Ucrânia e também cá, quando há alguma coisa má que acontece como a guerra ou a pandemia, são os idosos que sofrem relativamente mais.

Estamos muito longe de fazer pelos nossos idosos tudo aquilo de que precisam para terem uma vida condigna. Na nossa Conferência Vicentina e nas outras eles são o principal grupo de pessoas que ajudamos. Materialmente ajudamos principalmente nas despesas com medicamentos e na habitação, seja através da manutenção das mais de dez casas do Património dos Pobres da paróquia, seja através da ajuda a outras formas de habitação.

Há dias, o estado de saúde de uma idosa que está neste grupo que assim ajudamos piorou e foi para casa de um familiar que está agora a cuidar dela, mas não é certo que esta situação possa continuar. Por isso, surgiu naturalmente a angústia de saber se a iríamos continuar a ajudar em termos de habitação no caso de ter que sair de casa desse familiar. Claro que dissemos que sim.

Temos a noção de que é pouquinho o que fazemos pelos nossos idosos face ao muito que é preciso fazer por eles. Por isso, precisamos de nos unir todos para fazer mais e melhor por quem nos deu à luz e nos deu as suas vidas.

Américo Mendes