CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA
Será que Deus quer que nós soframos?
Quando estava a organizar as ideias para escrever esta crónica ligou-me uma senhora que me contacta com alguma regularidade e que é um exemplo vivo de Cristo na Cruz, a sofrer pelos pecados dos outros. Essa senhora veio morar cá para a paróquia juntamente com o marido que era ferroviário, vinda de uma terra no Douro. A intenção era assim ele ficar mais próximo do seu local de trabalho. Como o marido foi sempre de ter um salário baixo, a senhora completava o rendimento familiar com o trabalho de costureira onde era uma artista.
Viveram por cá alguns anos e depois mudaram-se para outra terra ainda mais perto do Porto. Aí a vida começou a virar de uma maneira que nunca mais deixou essa senhora em paz até hoje. Primeiro foi o marido que acamou. Depois foi um dos filhos que se meteu na droga, com o marido ainda acamado. Depois foi a saúde da senhora que nunca foi muito boa também a fragilizar-se com o passar dos anos e com os problemas que a afligiam.
Depois dos filhos vieram os problemas com netos e agora com bisnetos. A todos ela vai acudindo como pode, mas a carga é muito pesada.
Sempre que falamos ao telefone há mais um motivo de sofrimento de que ela me fala, não em tom de queixa, ou de pedinchice de alguma coisa, ou de revolta contra Deus que parece não lhe dar paz. Ela é do género de "pobre envergonhada", sempre com um sorriso nos lábios e pronta para ajudar os seus e os outros.
Certamente Deus não quer, nem causou o sofrimento desta senhora e eu sei que ela nunca O culpou por isso. Aceita esse sofrimento sem que por isso deixe de ajudar os outros, a começar pelos da sua família de quem sempre tem cuidado o melhor que tem podido.
Embora não seja agora uma pessoa acompanhada pela nossa Conferência Vicentina, é alguém que nem por isso, eliminamos da nossa atenção. Por isso, se providenciou para que alguma ajuda lhe possa ir chegando por outras vias. O nosso próximo não está confinado aos limites da nossa paróquia.
Américo Mendes