CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA
"Abraão, vosso pai, exultou por ver o Meu dia" (Jo 8,56)
Com poucas excepções, os Judeus que conheceram Jesus não viram n'Ele o Filho de Deus, mas sim alguém que tinha o demónio e, por isso, mataram-no.
Não foram só esses Judeus que procederam assim. Se reflectirmos bem, muita gente desde essa altura até aos nossos dias e, por vezes, nós próprios temos procedido assim: onde deveríamos ver Deus, vemos o demónio. Peguemos, por exemplo, no que foi o tema da nossa última crónica: os imigrantes. É ou não verdade, que, muitas vezes, se vê num imigrante que passou por muitas provações e que precisa de ajuda, não o Deus encarnado, mas sim o demónio? Quantos imigrantes por esse mundo fora têm morrido de forma trágica por causa deste tipo de atitude.
Desde a nossa última crónica, conseguiu-se acolhimento condigno para um imigrante que por cá temos. Bem-haja a quem lhe está a proporcionar esse acolhimento! Contrato de trabalho condigno também se consegue, com facilidade, mas, para o celebrar como manda a lei, é preciso cumprir com procedimentos que não estão a ser fáceis.
Seja no caso de imigrantes, seja no caso doutras pessoas que vemos como "diferentes" e que precisam de ajuda, acolher essa "diferença" é, muitas vezes, difícil. É mais fácil fazermos que não vemos quem é "diferente". É mais fácil procurarmos a companhia de quem vemos como sendo de condição "igual" à nossa. Às vezes, quase sem darmos por ela, estamos a culpabilizar quem é "diferente" pela situação de "diferença" em que se encontra. Custa muito, na prática, comportarmo-nos como pessoas que realmente consideram que Deus criou todos os seres humanos como sendo iguais e todos como sendo igualmente merecedores de serem tratados com dignidade.
Sempre que não procedermos assim, em vez de estarmos a ver o Deus encarnado nos mais vulneráveis, estamos a ver o demónio e, com isso, estamos a contribuir para a morte de quem assim tratamos.
Que a Páscoa que aí vem nos ajude a sermos instrumentos na mão de Deus para lutarmos contra todas as formas de morte física e psicológica que continuam a vitimar tantos seres humanos por cá e por esse mundo fora.
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Américo Mendes