CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

JESUS CHORA SOBRE A CIDADE — Peço desculpa por voltar ao tema da última quinzena, mas não me sai da cabeça a tragédia que agora vai por esse mundo fora e que nos chega nas notícias todos os dias. Não podia ser mais a propósito, o que está no Evangelho do dia em que esta crónica está a ser escrita.

"Quando se aproximou, ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela e disse: "Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitirão e te apertarão de todos os lados; hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que fostes visitada." (Lc 19, 41-44).

Repare-se bem no que levou o Filho de Deus ao ponto de chorar: ver os humanos a serem incapazes de reconhecer o que lhes pode trazer a paz. Por coincidência, ou talvez não, logo a seguir à passagem atrás citada do Evangelho de São Lucas, relata-se uma situação atentatória da construção da paz onde Jesus também reagiu de uma forma muito humana, mais precisamente a expulsão dos vendilhões do Templo já aqui invocada noutra crónica.

Não se pode substituir o Templo e a pregação e prática do amor ao próximo por comportamentos onde tudo se troca por tudo, sendo só uma questão de preço. Assim não se constrói a paz. A paz só se pode construir em cima do amor ao próximo, especialmente ao próximo mais vulnerável. Isto vale para todos os sítios do mundo, não apenas aqueles onde há guerras, mas também para aqui e para agora.

Que Deus nos ajude a sermos todos construtores de paz, todos os dias, no sítio onde estivermos e das formas que pudermos, seja numa Conferência Vicentina, ou seja, doutras maneiras em que possamos servir o nosso próximo que precisa de nós!

Américo Mendes