CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

As dificuldades do dar

Há dias, uma pessoa nossa conhecida fez um apelo ao seu grupo de amigos e conhecidos para apoiarem o que era, garantidamente, uma boa causa. O apoio podia ser em dinheiro, com contribuições a começar em 5 euros, ou podia ter outras formas. Nesse apelo, essa pessoa dizia aos seus amigos e conhecidos uma coisa do género: "Que ninguém me diga que não tem, pelo menos, 5 euros para contribuir". Um desses amigos ou conhecidos, ao receber este apelo, reagiu mal, dizendo que não tinha gostado de ler esta passagem da mensagem, porque cada um sabe da sua vida. É verdade que quem assim reagiu esteve desempregado, e passou, ou passa, por algumas dificuldades, mas nada de viver na miséria ou sequer perto disso. Havendo vontade de contribuir em dinheiro, não é de crer que essa pessoa não pudesse arranjar os tais 5 euros, pelo menos. Mesmo que isso fosse difícil, havia outras formas de ajudar que essa pessoa conhecia e que não custavam dinheiro nenhum. De notar ainda, que a pessoa que assim reagiu teve uma ajuda substancial quando dela precisou, ajuda essa providenciada por quem lhe lançou esse apelo.

De qualquer maneira, não estamos aqui para julgar essa pessoa que assim reagiu. Não temos esse direito, nem é essa pessoa em concreto que aqui interessa. O que aqui mais interessa é vermos que esse tipo de reacção de certeza que todos nós já a tivemos várias vezes e sob várias formas.

Quando se trata de ajudar o próximo, ou nem sequer nos apercebemos da existência desse próximo, ou, se nos apercebemos desse próximo que precisa de ajuda porque alguém nos faz um apelo nesse sentido, várias vezes arranjamos desculpas para não ajudar: dizemos que não temos dinheiro, que não temos tempo, ou que não temos outras coisas que nos estão a ser pedidas o que, mesmo a ser verdade, não nos dispensaria de nos perguntarmos se não há outras formas para podermos ajudar. Por pouco que seja, há sempre alguma em que podemos ajudar o nosso próximo. Esse "pouco", junto com outros "poucos", pode fazer muito, mas, às vezes, mesmo sem ser junto com outros, só o nosso "pouco" pode ser suficiente para fazer a diferença para melhor na vida do nosso próximo.

Que Deus nos dê olhos para ver e ouvidos para ouvir o próximo que precisa da nossa ajuda. Que nos dê, depois, um coração que seja sensível a essa necessidade de ajuda e uma cabeça que nos permita discernir com quê e como podemos e devemos ajudar.

Américo Mendes