CORRESPONDÊNCIA DOS LEITORES
«A propósito da Parábola da Formiga - O nosso querido e sempre presente irmão Baptista, num gesto de grande amor e criatividade, fez o milagre de criar um formigueiro, em que à semelhança de todos os outros, ninguém era excluído das tarefas da comunidade, independentemente das suas capacidades físicas ou mentais. E todos se respeitavam e amavam. A coragem, eu diria mesmo desplante, do nosso irmão foi tal que, ao contrário do habitual, o formigueiro foi construído em sítio altaneiro, sem muros, onde o sol era farto para que todos o pudessem ver, visitar e, porventura, partilhar do ambiente de paz e amor que era a sua marca matricial.
No meio da sua loucura apaixonada, vejam lá que até se esqueceu dos formigões. Predadores inveterados dos formigueiros, a quem têm um ódio de morte. Mais ainda se estropiados, física ou mentalmente.
Vestem bem. Muito esmoleres, roubando sempre mais aos seus protegidos, do que a esmola que lhes dão em troca. No plano social, têm profundas e amistosas relações com os políticos, poderes civis, eclesiásticos e todas as formas de poder instituído e organizações de mérito e bem fazer. Desta forma podem aproximar-se camaleonicamente das suas presas e desferir-lhes inopinadamente o golpe de morte.
Meu irmão Baptista, melhor fora que tivesses enfiado as formigas debaixo da terra, em galerias bem profundas para que ninguém as visse e se sentisse incomodado com tal espectáculo. Ainda por cima, estarias a recato dos ataques dos formigões.
Penso em ti e, de uma forma obsessiva, vem-me à mente um Outro, da tua raça, já lá vão cerca de 2000 anos.
Conviveu com prostitutas, proscritos, estropiados e para todos teve palavras de acolhimento e ternura. Palavras destemperadas só as usou com os formigões da época. Porque eram falsos e a Boa Nova lhes aturdia a cabeça.
E o que Lhe aconteceu? Foi julgado, condenado, acabando por dar com os costados na cruz, tinha então 33 anos. Um jovem.
E o que mudou desde então? Nada. Tudo não passou de uma Bela Utopia.
Mas, pensando melhor, talvez não seja assim. Porque, sem Ele, tu não terias sido o que foste, nem eu te teria conhecido, a Ti, meu Bom Padre Baptista. Deus talvez me tenha querido falar ao coração, não por detrás de nuvens de incenso nos templos, mas através de Homens como tu, crentes ou não crentes, que souberam amar incondicionalmente os que os rodearam, sem previamente lhes terem perguntado: quem és tu? para onde vais? qual o teu caminho?
Vosso irmão Mário, companheiro de viagem nesta imensa Arca de Noé, que são as nossas vidas.»