CORRESPONDÊNCIA DOS LEITORES
«Queridos amigos. Tem sido meu hábito, desde há muitos anos, escrever-vos em Dezembro, durante o período do Advento. Esporadicamente, também escrevo noutras ocasiões.
Mas há dias, como muitas vezes acontece, pensei em vós, no trabalho admirável que desenvolvem em todas as vossas Casas. Fui-me lembrando de pormenores vários que quinzenalmente nos vão sendo relatados. Certamente acontecerá com muitos leitores, todos os vossos relatos fazem com que também me sinta parte da Obra da Rua, me alegre com as coisas boas e me entristeça com as coisas más. E, acima de tudo, admirando o Amor com que os (poucos) sacerdotes se entregam a Missão tão admirável.
A pouco e pouco fui amadurecendo a ideia de que, nesta quadra quaresmal, deveria fazer um donativo que, de certo modo, ajudasse no que fosse preciso.
No último número d'O GAIATO n.° 1905, na crónica de Malanje, li que o Padre Rafael, como dizia alguém que o interpelou, "nunca pede nada para a Casa do Gaiato". Isso fez-me pensar também nas outras Casas, com todos os seus problemas, iguais mas também diferentes em todas elas. E embora por vezes, quando envio qualquer donativo, vos sugira alguma coisa para alguma das Casas, nunca me referi a algumas...
Assim, fui pensando em todas:
- Em Paço de Sousa, como "cabeça", onde o Padre Júlio tem que atender as múltiplos problemas, incompreensões e injustiças;
- No Calvário, onde o Padre Baptista foi vítima de ódios, invejas e injustiças... e onde, creio, é o Padre Telmo que vai colmatando o que pode...;
- Em Miranda do Corvo, onde o Padre Manuel Mendes vai olhando pelos seus Rapazes (gosto sobremaneira das crónicas dos rapazes, quando referem a "terra dos grilos"...) e ainda arranja tempo para dar conhecimento do que vai coligindo acerca do Pai Américo, com vistas, penso eu, ao processo conducente à sua beatificação;
- Em Setúbal, onde o Padre Acílio tem problemas específicos daquela região e nos relata com todo o Amor o que se passa na Casa e no Património dos Pobres...;
- Em Benguela, onde o Padre Manuel António vai continuando uma obra admirável, que começou há mais de cinquenta anos (eu, que então lá vivia, comecei a vê-lo, a circular pela cidade, numa altura em que, embora com muito respeito, as "coisas de Deus" ainda me passavam ao lado...;
- Em Malanje, onde o Padre Telmo, construiu a Casa, que mais tarde teve que recomeçar; obra que o Padre Rafael, ido de Espanha, respondendo ao chamamento do Senhor, vai continuando;
- Em Moçambique, onde fui acompanhando as angústias do Padre José Maria e onde vou lendo o que a irmã Quitéria, acompanhada por alguns "rapazes" mais velhos, vai tentando manter...
Ao pensar em tudo isto, resolvi enviar um cheque, que peço o favor de distribuir, de valor igual, por todas as Casas acima referidas. Desculpem-me a maneira tão extensa como justifico este envio, mas também foi uma forma de conversar convosco.
Termino, pedindo ao Senhor que vos dê muita saúde, coragem para enfrentar todas as contrariedades e incompreensões e que venham mais sacerdotes para Messe tão rica, mas que precisa de trabalhadores que a ela se entreguem de alma e coração.
Para todos, o meu abraço muito amigo.
Assinante 39113.»