DA NOSSA VIDA
De todos os discípulos que o seguiram, Jesus escolheu doze a quem deu o nome de Apóstolos. Eles haveriam de ser os seus mensageiros principais. É do evangelho que, noutra ocasião mais tarde, enviou setenta e dois, dois a dois, com a missão de prepararem os caminhos aonde Ele haveria de ir.
Da multidão de seus discípulos, houve muitos que Ele retirou de vidas de miséria moral ou física, para uma vida de liberdade interior e de paz. Mas, houve um deles dentre os principais, que não aderiu a Jesus e veio a tornar-se o traidor que O entregou a troco de trinta moedas de prata: apesar de conviver com Jesus, numa relação pessoal de proximidade, manteve-se dominado pela miséria moral e, por fim, física.
A vida vai-nos mostrando como por vezes é difícil, a alguns, abandonar as suas misérias, o que para acontecer tem de partir do desejo pessoal pelo bem e da repugnância pelo mal. Só quando se descobre que se está prisioneiro deste, então nasce o desejo de dele se libertar. Nesse momento entra a graça de Deus que o retira do mal e o liberta.
Por algumas vezes ouvi, há uns anos, a expressão de um Gaiato dizendo: «Pai Américo tentou fazer de mim um homem, mas não o conseguiu». Nas circunstâncias em que o dizia, percebi que de facto não era assim, pois que o homem se fez mais tarde. Até lá, quantas situações de miséria experimentou!?
Tal como este, outros parecem empedernidos nas suas misérias difíceis de quebrar. Por vezes dá-nos a tentação de entregar à lei a resolução destes casos, mas outra Lei mais alta se levanta. Foi a Lei que o Mestre sempre seguiu e nos mandou fazer de igual maneira.
Tenho um amigo que ainda não conheço pessoalmente, que está preso, mas que nunca deixa de nos escrever, apesar de não correspondermos como deveria ser. Nesta Páscoa, sinal eficaz da libertação dada por Jesus Cristo, recebemos mais um seu postal:
«Estimado Padre Júlio e "pequenos", grandes homens, espero que estejam bem! Eu, por aqui na Cadeia (...) vou bem, pois tenho o apoio da família e tenho Jesus, Maria, São José e um infinito amor de todos e de Deus. Aprendi a ver, com olhos de cristão e por isso vos envio um vale, (que deve chegar mais tarde), que ainda precisa de aprovação e autorização da Sr.ª Directora. A minha liberdade física ainda vai demorar e por isso espero que todas as Páscoas eu me lembre de ressuscitar e acreditar que um dia venha a luz da Paz. Obrigado, por tudo e continuem com fé, que um dia tudo será melhor. Um abraço amigo.»
Afinal, a verdadeira liberdade não se alcança pela letra da lei mas pela força transformadora da Lei e da Graça.
Padre Júlio