DA NOSSA VIDA
Há duas edições atrás, falava do movimento posto em marcha por Pai Américo, o Património dos Pobres, como resposta dos cristãos e de todos os de boa vontade, à necessidade de dar uma casa aos Pobres sem habitação e sem esperança de a vir a ter em condições humanamente aceitáveis.
Falava ainda da injustiça em que actualmente se constituía o pagamento do imposto do IMI sobre essas casas, cujos habitantes são Pobres e, por conseguinte, não pagam renda, em consonância com o pensamento original de Pai Américo.
A necessidade destas casas na actualidade não se questiona. A sua conservação e melhoria de condições tem obrigado a um grande esforço por parte de quem detém a sua propriedade, normalmente as paróquias, que com o acréscimo do citado IMI vêem assim aumentar as suas preocupações: além de ajudarem os Pobres têm ainda de contribuir para o Estado. Em várias destas casas temos ajudado em obras diversas (reparação de telhados, tectos e chãos interiores, construção de novas casas-de-banho, etc.), pois para além de elas serem para uso daqueles para quem vivemos, têm também para nós um especial valor afectivo.
Na actual realidade social há famílias e partes de outras que, por razões diversas, se desfizeram, de que ficaram especialmente as mães com os filhos a seu cargo e uma vida difícil de gerir, situações que justificam que haja casas na linha do Património dos Pobres que as acolham. Contam-se por muitas dezenas as pessoas que nos procuram com estas dificuldades, para as ajudarmos na renda da casa onde vivem, muitas vezes com alguns meses em atraso e o consequente risco de despejo. Perante a falta de casas de arrendamento social, o Património dos Pobres continua a ser uma resposta, ainda que insuficiente.
Uma mãe que vive com o seu filho, que já trabalhou mas que doença mental a torna incapaz para um trabalho estável, doença de que só ela sabe as causas, com cinco meses de renda em atraso, vem pedir ajuda ao menos para um mês para acalmar a senhoria. Outra mãe com filho em início de idade adulta, o qual tem problemas de saúde que o impedem de alcançar trabalho permanente, vem duas vezes por ano, em média, pedir ajuda para a renda (humilde), quando a situação fica complicada. Outra mãe em situação similar.
Uma mulher com diversos problemas de saúde, apesar do RSI de pequeno montante que recebe, vem com frequência pedir ajuda para o quarto onde vive, vizinha de outras pessoas singulares com igual alojamento. A dada altura passamos a ajudar nos medicamentos, para que estes não falhem. Outros homens com iguais problemas e idênticas necessidades.
Os casos multiplicam-se. Muitas outras ajudas pontuais ajudaram a resolver problemas. Quem cuida das casas nascidas da intuição de Pai Américo sabe que os «cadilhos» com os seus habitantes aparecem quando menos se espera. É mais uma preocupação para quem cuida das casas do Património dos Pobres. Por isso, atenuá-las naquilo que é óbvio, é dar valor a este trabalho generoso e voluntário.
Padre Júlio