DA NOSSA VIDA
Como refere o Sucessor de
Pedro na sua recente Exortação à santidade, a habituação é uma atitude que se
pode tornar prejudicial na vida do cristão, porque pode significar ou resultar
em estagnação. No entanto, há hábitos bons e necessários, que se repetem, do
ponto de vista comunitário em determinadas épocas do ano e, individualmente em
determinadas fases da vida.
Neste último caso, há acontecimentos marcantes que se vivem, que marcam degraus de exigência na maturidade pessoal. Noutros tempos, não muito longínquos, era o serviço militar para os rapazes e o noivado para as raparigas, entre os momentos mais significativos. Na vida das comunidades, particularmente das rurais, era o tempo das colheitas que mais congregava as pessoas e as famílias. Era ver a entre-ajuda na recolha dos frutos da terra, acolhidos num ambiente de alegria e partilha.
Na nossa Comunidade, há também dois momentos de relação afectuosa com a natureza nos quais somos todos envolvidos. É a apanha da batata, na fase mais quente do ano, e a vindima dos cachos de uvas das nossas videiras, no mês de Outubro. Se noutros tempos, os anos bons e os anos maus de colheita já aconteciam, hoje não estão menos sujeitos a variações, dependentes da natureza e da capacidade do agricultor no cuidar das suas culturas.
Foi pois, em três manhãs deste mês de Agosto, que todos nos dedicamos à apanha da batata que os nossos campos produziram. Foram momentos de alegria e de esforço, pois o pão que a terra nos dá, pede-nos o suor do nosso rosto. São horas da nossa vida que ficam a perdurar na memória como momentos de união, na realização de um trabalho que, sentidamente, nos dignifica.
Depois de carregado o reboque do tractor e partilhada a merenda, que nesses momentos tem um sabor especial, os mais novos não perdem a boleia no reboque até ao celeiro, onde as batatas irão ficar, manifestando-se efusivamente, como sinal, ainda que inconsciente, da vitória do esforço próprio que resulta numa fonte de vida que lhes pertence. Depois, é a descontracção total no banho da piscina, que eles não dispensam.
Mais dois meses e teremos a vindima. Aí já nem todos poderão participar. A actividade escolar já estará em andamento e, com ela, a ausência diária e diurna de parte dos Rapazes.
Será atrevimento dizer que, e voltando ao tema referido do Papa Francisco, está já entranhado no sistema escolar outra espécie de habituação? Habituação que resulta em alunos estagnados, coleccionando níveis escolares que não aprendizagem e conhecimento? A generalização não se aplica aqui, ainda há bons hábitos, mas quando não, outras ofertas escolares seriam mais eficazes na maturação intelectual e pessoal.
Padre Júlio