DA NOSSA VIDA
Valores
Este é um momento em que se põe a nu que importância atribuímos àquilo a que ordinariamente chamamos valores. Por contraposição, confrontamo-nos também com o que se nos apresenta como contravalores, ou seja, aquilo que para outros são os seus valores e para nós o oposto. O que é bom e justo para uns é tido como injusto e retrógrado para outros. Sempre foi assim que o mundo foi pulando e avançando, nem sempre progredindo no sentido da verdade e da justiça.
Não serei muito fiel quando teoricamente defendo determinados valores e depois, no momento em que tenho a oportunidade de demonstrar no que acredito, me esqueço do que considerava digno de ser defendido e procurado, e defendo na prática, pela lógica do mal menor, outras causas. Que mérito terei quando digo «Senhor, Senhor...» mas depois não ajo de acordo com a minha consciência!
As influências exteriores são muitas, elas assaltam-nos, mas há que estar atento para tomar as melhores opções.
Todos se determinam em escolher os valores com que se identificam. Nós também o fazemos, fazendo nossos aqueles em que acreditamos como sendo os melhores, não só para nós mas para o conjunto da humanidade, aqueles que acreditamos serem em si mesmos valores humanos, ao contrário dos que consideramos desumanos. O que é humano e o que é desumano terá de ser invariável no tempo. Nem este nem as condições de vida e desenvolvimento poderão coloca-los numa categorização oposta. A história deveria constar de um processo evolutivo do desumano para o humano, mas nem sempre isso acontece.
Ainda que haja boa disposição interior, os valores dificilmente atingem a sua plenitude na vida de cada um. Eles são vividos com as imperfeições incrustadas, com o propósito de nos purificarmos delas. Este desincrustar das imperfeições faz-se na relação com os outros, dia-a-dia.
As imperfeições difíceis de extirpar, exigem de nós a escuta atenta da consciência quando ela se manifesta, iluminando-nos o que temos de limar. Ora este processo é doloroso, são dores que as imperfeições provocam, e que depois de vencidas nos tornam livres. Enquanto não eliminadas, farão a consciência pesada.
Almas grandes, como Pai Américo, não só cuidava de vencer as suas imperfeições, assumindo-lhes as dores, como tomava as dores dos outros como sendo suas, ajudando-os a libertarem-se. É Jesus Cristo Aquele que, levando ao extremo a doação de Si, lava as imperfeições da humanidade e as elimina pela Redenção das consciências. Talvez por isso tenha dito «Vós já estais limpos...» e ainda «Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois está todo limpo...».
Estes são valores de ordem espiritual. Neste momento não podem passar despercebidos, porque uma construção deve começar e assentar nos alicerces, as razões de ser da vida.
Padre Júlio