
DA NOSSA VIDA
Tudo o que nos move tem em vista promover a vida. N'Aquele que disse «Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância», nos motivamos.
Foi com acontecimentos de vida que Pai Américo a comunicou aos que a tinham anémica: pela natureza, nas plantas e animais. Todo o que vivia era impulsionador de vida. Assim se salvavam os rapazes vadios da rua, do abandono, da miséria moral ou material. Os motivos cheios de vida eram a terapêutica mais indicada e autêntica para os curar dos seus males. Não um simples ver, mas participação nos acontecimentos, no cultivo da terra, no cuidado dos animais, na recolha dos dons da terra ou na sua transformação em pão... Onde a vida a brotar milagrosamente, envolta em beleza, aí o Rapaz coparticipante e orientador.
Os tempos andaram. As coisas artificiais e virtuais reluziram e atraíram mais, e a vida real foi sendo preterida e substituída. Em vez do convívio real da vida dos seres, a admiração perante a perfeição de uma imagem virtual que a vista não distingue, na realidade, tão perfeitamente.
Alguém, pessoa amiga, há tempos interrogava-se por não ver hoje os rapazes no dia-a-dia em contacto com a natureza como noutros tempos - Eles iam aos grilos, subiam às árvores, criavam bichinhos da seda, espreitavam os ninhos dos pássaros, iam assistir ao nascimento das crias das vacas e contavam os pintainhos agrupados em ninhada - quadros de vida e beleza que a todos encantava; a escola da vida.
Hoje? Escola o dia todo, e, nos tempos que restam, ligados ao mundo através de uma máquina. Para além disto, a atracção pela bola, o que se repete em todas as gerações, com o pensamento no sonho de vir um dia a ser um ídolo.
Quando o alheamento da realidade cresce aumentam também os perigos. Pelo aproveitamento e interesse de alguns criam-se mil e uma coisas que despertam a curiosidade, prometem a novidade e dão a sensação de poder. A habituação nelas, virtualmente, desvirtualiza-as na realidade, passando o real a ser lido como uma dessas realidades virtuais, entretanto desvalorizadas e sem responsabilidade.
Daqui, a tirar a vida a alguém, mesmo à própria família ou a colegas com quem se participa na mesma actividade, não há distância ou consciência que o impeça.
Esta banalização e aniquilamento do que é o mais importante, como a vida, não estará também a contar com a anuência daqueles que banalizam o nascer e o morrer, com o nada obsta da própria lei? Se a vida do feto no seio de sua mãe pode ser eliminada, se a vida pode ser liquidada noutras situações existenciais, tudo legalizado, então são estes mais uns jogos que se juntam a tantos outros que afastam, jovens e não só, da realidade e responsabilidade que os humanos devem ter. Os exemplos práticos têm muita força.
Padre Júlio