DA NOSSA VIDA
Os nossos Pobres
Continuam a deslocar-se menos a nossa Casa, para nos porem a par das suas dificuldades e pedir-nos ajuda para as vencerem. Em vez disso, o telefone é o meio privilegiado para o fazerem, também pelo whatsapp que é gratuito, bastando ter acesso à internet, que nos traz as suas mensagens escritas ou imagem esclarecedora e até em voz gravada. Todos estes meios são muito úteis, ajudando também os Pobres a minorar as suas aflições sem que isso signifique qualquer custo avultado.
Aquela mulher pobre e sofredora, que esperava ver a sua situação melhorada e até autónoma de ajudas quando começou a receber a sua pensão, não foi isso que viu acontecer na sua vida. A pensão vai ajudando a calar alguma inquietação mas não veio apaziguá-la completamente. Até parece que as dores das artroses que a consomem aumentaram de intensidade e o seu desânimo também. Idas à urgência do hospital diminuem-nas mas são acompanhadas por mais e mais medicação. Depois, para ajudar a facilitar os seus movimentos em casa deitamos mão a uma cadeira de rodas mais outra que tínhamos guardada, providenciadas por amigos dos Pobres.
Outra aflita, cuja vida familiar não é de contar, tem ainda por muitos meses obrigações pecuniárias a cumprir. A gente interroga-se quando vê e ouve publicidade tentadora e de alguma forma enganadora, bem pensada para atrair ao empréstimo fácil de dinheiro o seu público alvo, que, se depois houver incumprimento, vão ficar amarrados de pés e mãos, levados pelo «canto da sereia». Noutros tempos o dinheiro não estava acima de tudo, como agora. Esta mulher e seus filhos têm este grave problema, e outros semelhantes que já viveram no passado. O trabalho é a solução. Alguma ajuda também alivia.
Nem todos os pedidos que recebemos obtêm correspondência imediata. Quando não há um conhecimento e convencimento real é preciso ver a vida de quem nos procura, mas também isto por vezes não chega. A facilidade no pedir e no dar não é fruto de uma boa consciência, e pode traduzir-se em aproveitamento desonesto ou injustiça.
Uma Rosa de seu nome, nunca deixa de ter espinhos na sua vida e da família. Fui conhecer a nova casa que alugaram. Pelo menos pode-se respirar dentro dela, o que não acontecia na que viviam antes, por tanta humidade. Só que os meses galopam uns após outros, e a renda, embora não se possa dizer que seja cara tal a carestia geral das rendas, embora cara para eles, é sempre um problema que têm quando começa um novo mês. Juntam-se-lhe as receitas e as facturas, e o que entra em casa não acompanha o que era preciso ter para o que teria de sair. Nós vamos animando e tapando um buraco de vez em quando.
Com a facilidade em que se fala de milhões, fica no ar a sensação de que todos os problemas se irão resolver. Mas para quem vive na terra a compreensão da realidade é outra.
Padre Júlio